Os Estados Unidos estão prontos para impor novas sanções contra integrantes do governo da Venezuela e não descartam a possibilidade de adotar medidas que afetem o setores de petróleo e financeiro, disse ao Estado o diretor para América do Sul do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Fernando Cutz. “O presidente Trump cumpriu sua palavra de ter uma reação forte. Mas não é o final”, afirmou, em referência ao congelamento de bens que o presidente Nicolás Maduro eventualmente tenha nos EUA. Cutz nasceu no Rio de Janeiro e se mudou com os pais para Miami quando tinha 6 anos. Aos 12, se naturalizou americano. Apesar de ser responsável por toda a América do Sul, a Venezuela monopolizou seu tempo nas últimas semanas. A seguir, trechos da entrevista ao Estado:
Qual o próximo passo dos EUA em relação à Venezuela? O que o presidente (Donald) Trump pediu para mim e meu time foi um mapa de escalada de sanções. Dependendo das ações de Maduro, nós estamos prontos para agir e escalar no que for necessário.
Quais são essas opções? Não posso dizer. Mas nosso objetivo é ter o máximo de impacto sobre o governo da Venezuela e sobre Maduro pessoalmente e mínimo o impacto possível sobre o povo da Venezuela e sobre a economia e a população americanas. Vários estudos foram feitos nas últimas semanas para tentarmos calibrar e entender as consequências das nossas decisões.
Sanções contra o setor de petróleo continuam sobre a mesa? Dá para impor sanções ao setor de petróleo sem prejudicar a população? Nossa principal preocupação é o bem-estar dos venezuelanos. Mas dependendo das decisões que Maduro tomar, nós seremos forçados a agir de maneira mais forte. O povo da Venezuela já está sofrendo muito por questões humanitárias e a falta de democracia. Se Maduro mantiver a repressão, em um cenário de escassez de comida e de remédios, a crise vai se agravar ainda mais.Espero que esse momento nunca chegue, mas a decisão que teremos de tomar é qual o ponto em que o benefício para a população da Venezuela supera os efeitos de uma sanção desse tipo, cujas consequências para o governo do país podem ser drásticas.
Na semana passada, a Casa Branca disse que adotaria sanções econômicas fortes caso a votação de domingo ocorresse, mas acabou anunciando só sanções individuais contra Maduro. Por quê? Nós prometemos sanções fortes e rápidas. No dia seguinte à votação nós sancionamos o Maduro. Muita gente especulou que iríamos para o setor de petróleo. Esse setor e o financeiro são opções às quais chegaremos se for necessário. Mas não quero minimizar a decisão de ontem. O presidente Trump cumpriu sua palavra de ter uma reação forte. Mas não é o final. Se Maduro continuar a forçar nossa mão com as ações que toma contra o próprio povo, nós vamos continuar a escalar (as sanções).
Se Maduro não tiver ativos sob jurisdição dos EUA, qual é o impacto das sanções anunciadas na segunda-feira? Há um impacto simbólico forte, dizer que agora ele é um ditador. O governo americano não faz isso levianamente. Maduro entrou para um clube exclusivo de quatro membros, no qual já estavam Bashar Assad, da Síria, Kim Jong-un, da Coreia do Norte, e (Robert) Mugabe, no Zimbábue. Maduro não pode mais ter bens nos Estados Unidos e não pode ter dinheiro que passe pelo sistema financeiro americano. Ele está proibido de vir para os Estados Unidos. São medidas de impacto para o líder de um país. É mais uma ação forte que nós tomamos, mas não é a última.
Qual é a maior preocupação os EUA? A democracia está sendo destruída no país. Se você cria instabilidade, elimina a democracia, vira um ditador, você cria uma situação que pode afetar o hemisfério todo. Nós estamos muitos preocupados com a Colômbia e o Brasil, que são as primeiras fronteiras para a imigração (venezuelana). A qualquer momento, isso pode virar um problema sério.
O que levaria a uma escalada de sanções? Nós temos flexibilidade para tomar decisões de acordo com o que Maduro fizer. Claramente, não gostaríamos que ele continuasse nessa direção de eliminar a democracia, contrariar o que a população quer, ignorar necessidades humanitárias básicas dos venezuelanos e enriquecer a ele e seu grupo. A julgar pelos comentários que Maduro fez nos últimos dias, em vez de tentar acalmar a situação, ele a está agravando. Se ele dissolver a Assembleia Nacional, se prender membros da oposição de maneira indiscriminada, se a repressão aumentar, isso é algo que o povo da Venezuela não vai aceitar e os Estados Unidos também não.
Na madrugada de ontem, foram presos dois líderes opositores, Antonio Ledezma e Leopoldo López. Isso justificaria uma escalada das sanções? Isso é muito sério e nós condenamos. Mas não queremos responder a cada coisa que eles façam. Há uma linha clara do que nós queremos: que eles voltem a respeitar a democracia, libertem todos os presos políticos e respeitem a Constituição. Só isso. O presidente tem um menu de opções que ele pode escolher entre elas quando quiser.