Atualizado às 15h28
Ministros da oposição anunciam renúncia nesta quarta.
BEIRUTE - O ministros do bloco opositor do Líbano, do qual o grupo radical Hezbollah faz parte, deixaram nesta quarta-feira, 12, o governo do Líbano, conforme haviam adiantado. A decisão pode mergulhar o governo do primeiro-ministro Saad al-Hariri em uma profunda crise política.
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"Esse gabinete se tornou um fardo para os libaneses, incapaz de fazer seu trabalho", disse o ministro da Energia, Jibran Bassil, acompanhado de outros ministros que renunciaram. "Estamos dando uma chance para que outro governo assuma o poder".
A decisão do grupo está ligada às tensões geradas pelas investigações internacionais sobre o assassinato do ex-premiê Rafik Hariri em 2005. Espera-se que o Hezbollah seja indiciado por envolvimento na morte do ex-líder, pai do atual primeiro-ministro.
Ao todo, 11 ministros da oposição, reunida sob a coalizão 8 de Março, renunciaram. O grupo precisava que mais de um terço do gabinete, formado por 30 ministros, deixasse o governo para derrubá-lo.
O grupo xiita Hezbollah e seus aliados têm pressionado há meses o primeiro-ministro a rejeitar o Tribunal Especial para o Líbano, apoiado pela ONU, argumentando que essa corte é parte de um plano feito entre EUA e Israel.
Bassil disse que os ministros decidiram renunciar depois que Hariri "sucumbiu a pressões estrangeiras e americanas" e virou as costas para os esforços sírios e sauditas. A Síria e a Arábia Saudita tentaram mediar a crise política no Líbano, mas não tiveram sucesso.
Nos últimos dias, o primeiro-ministro Hariri reuniu-se em Nova York com o rei Abdullah, da Arábia Saudita, com o presidente da França, Nicolas Sarkozy, com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e com a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton. Ele se reuniria nesta quarta na Casa Branca com o presidente norte-americano, Barack Obama.
Divisão de poder
A composição do governo libanês é fruto de prolongadas negociações e é formado por 30 ministros. O bloco opositor é formado por xiitas e cristãos, enquanto o governista, do premiê Hariri, é composto por sunitas e cristãos radicais.
A lei libanesa prevê que todo governo deve incluir representantes de todas as religiões do país - xiitas. sunitas, druzos e cristãos. Com a saída da oposição e do Hezbollah, a coalizão torna-se ilegal, já que não tem representantes xiitas.
O Líbano é um Estado sectário, já que não existe maioria religiosa. Os cristãos, sunitas e xiitas representam aproximadamente um terço da população cada. Censos não são realizados, o que inviabiliza a determinação de números exatos.
Colaborou Gustavo Chacra