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Hezbollah reúne 500 mil para celebrar "vitória" sobre Israel

Em sua primeira aparição pública desde o início do confronto com Israel, o xeque Hassan Nasrallah exigiu uma maior participação do grupo no governo libanês

Por Agencia Estado
Atualização:

O líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, afirmou nesta sexta-feira a centenas de milhares de seguidores reunidos em uma "celebração da vitória" sobre Israel que sua guerrilha só entregará as armas quando houver um governo libanês suficientemente forte para proteger o país. Nasrallah disse contar ainda com mais de 20 mil foguetes que sobraram da guerra de 34 dias com Israel. Estima-se que mais de 500 mil pessoas reuniram-se para a assistir ao discurso, realizado em um bairro devastado pelas bombas de Israel no sul de Beirute. A impressionante multidão foi interpretada como mais uma demonstração de força do Hezbollah, que agora pressiona o governo pró-Ocidente do primeiro-ministro Fuad Saniora a ampliar a influência da guerrilha xiita no poder. Além disso, o pronunciamento tinha por objetivo demonstrar que o Hezbollah não foi enfraquecido pela presença de forças de paz da ONU e do Exército libanês no sul do país. A região, que faz fronteira com Israel, é o maior reduto da guerrilha. Ladeado por corpulentos guarda-costas, Nasrallah surgiu no palanque em sua primeira aparição pública desde o começo da ofensiva israelense, em 12 de julho, provocando delírios na multidão. Ele agradeceu a Deus pela "vitória divina, histórica e estratégica" sobre o Estado judeu. Nasrallah defendeu a formação de um novo governo de unidade nacional, e criticou repetidamente a administração Saniora, considerada por ele fraca e incapaz de proteger o Líbano de Israel. "Lágrimas não protegem ninguém", disse o clérigo, com seu costumas turbante preto, referindo-se a um discurso em que Saniora chorou várias vezes ao pedir apoio à comunidade internacional durante a ofensiva israelense. Nasrallah disse que seus combatentes só entregarão as armas quando as "ameaças de Israel" tiverem terminado, porque fazê-lo agora, "sob este governo (...) significa deixar o Líbano exposto às investidas israelenses para matar, deter e bombardear quem eles quiserem, e certamente não aceitaremos isso". Líbano dividido A pressão do Hezbollah por uma presença maior no governo pode aprofundar as tensões em um Líbano amplamente dividido na esteira da guerra. A tenaz resistência da guerrilha frente a Israel fez sua popularidade ir às alturas entre a comunidade xiita. Mas setores cristãos e sunitas temem a força da guerrilha e a responsabilizam pela guerra com Israel. A ofensiva de Israel começou depois que o Hezbollah capturou dois soldados em território israelense. Um Hezbollah com maior força política também minaria os esforços dos Estados Unidos e Israel para enfraquecer o grupo militante e diminuir a influência de sua aliada Síria. Apesar da dura retórica, Nasrallah acenou a Saniora com um ramo de oliveira, dizendo que não busca a queda do governo nem a remoção de pessoas - apenas uma discussão para ampliar a representatividade do governo. Num breve comunicado de seu gabinete, Saniora considerou que o fato de Nasrallah ter concentrado seu discurso "no diálogo é algo bom e construtivo e abre futuros horizontes". A manifestação, que contou também com a presença de seguidores de outra guerrilha xiita, a Amal, e de cristãos aliados, foi uma demonstração de que o Hezbollah não foi enfraquecido, nem política nem militarmente, pelos 34 dias de bombardeios israelenses. Nasrallah garantiu que seus combatentes não serão afetados pelas tropas da ONU e libanesas que estão monitorando as fronteiras, os aeroportos e patrulhando a costa a fim de evitar que o Hezbollah obtenha armas enviadas supostamente por seus aliados Irã e Síria. "Digo a todos aqueles que querem fechar os mares, céus e os desertos e as fronteiras; a resistência hoje possui mais - sublinho isso - mais de 20.000 foguetes", alardeou Nasrallah. "A resistência (...) recompôs todas suas capacidades militar, organizacional e de armas. A resistência hoje é mais forte do que era às vésperas do 12 de julho", garantiu. A guerrilha lançou estimados 4.000 foguetes contra Israel durante o conflito. Reação israelense O Estado judeu reagiu com dureza ao discurso. "A comunidade internacional não pode deixar que um extremista financiado pelo Irã cuspa na cara da comunidade internacional das nações", afirmou o porta-voz do Ministério do Exterior, Mark Regev. Regev lembrou que pelos termos do cessar-fogo mediado pela ONU, o Hezbollah "não deveria ter nenhum foguete". O cessar-fogo de 14 de agosto contempla o eventual desarmamento da guerrilha xiita. A captura dos dois soldados israelenses em 12 julho precipitou os 34 dias de bombardeios por terra, mar e ar do Estado judeu contra o Líbano. A presença de Nasrallah nesta sexta-feira em um subúrbio de Beirute destruído pelas bombas israelenses foi um desafio a Israel, que ameaçou matá-lo durante o conflito. Nasrallah contou que, junto com assessores, relutava em comparecer ao ato até 30 minutos antes de seu início. "Mas meu coração, minha mente e minha alma não permitiram me dirigir a vocês à distância", declarou. Nasrallah disse que decidiu aparecer em público apesar das ameaças. "Eles disseram que esta praça seria bombardeada e que este palanque seria destruído para aterrorizar as pessoas e mantê-las afastadas, e vocês estão aqui", afirmou. "Vocês são mais bravos e mais corajosos do que todos eles juntos". Nasrallah culpou os EUA pela guerra com Israel. "Foi uma guerra americana, que providenciou as armas e o planejamento e deu prazo depois de prazo o inimigo. O que parou a guerra foi a incapacidade dos sionistas de nos derrotarem", acusou. "Eles pensaram que a guerra faria com que o Hezbollah se rendesse...". Nasrallah chamou o presidente venezuelano, Hugo Chávez, de "um grande herói" por ter criticado o presidente dos EUA, George W. Bush, na Assembléia-Geral da ONU na quarta-feira. Então, Chávez chegou a chamar Bush de "demônio".

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