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Hillary Clinton vincula Irã à paz no Oriente Médio

Por Roger Cohen
Atualização:

O pugilato entre os Estados Unidos e Israel começou, e isso é uma coisa boa. Os interesses de Israel não são atendidos por um governo americano acrítico. O Estado judeu emergiu após o 11 de Setembro menos seguro e menos amado pela política americana, invariavelmente pró-israelense. As críticas ao governo de centro-direita do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu vieram de uma fonte improvável: a secretária americana de Estado, Hillary Clinton. Ouvi dizer que Hillary ficou chocada com o que viu em sua visita no mês passado à Cisjordânia. Isso não deve surpreender. A transição da azáfama de primeiro mundo de Israel para os jumentos, carroças e pessoas ociosas além do muro de separação é brutal. Se há uma coisa que toca especialmente a secretária, é o sofrimento humano. Toda a desolada paisagem da Cisjordânia está pontilhada de assent/amentos parecendo guarnições militares no alto de colinas. Para quem procura uma cartilha sobre colonialismo, este não é um mal lugar para começar. A maioria dos israelenses jamais vê isso, a menos que esteja no Exército. Mas Hillary o testemunhou. Ela ficou compreensivelmente perturbada com a humilhação que a cercava. Agora, ela advertiu Netanyahu a sair "da lateral" com respeito aos esforços de paz palestinos. Não custa lembrar que o premiê e seu Partido Likud, de direita, ainda não aceitaram nem sequer a teoria de uma solução de dois Estados. Num depoimento à Câmara americana, Hillary disse: "Para Israel obter o tipo de apoio vigoroso que busca com relação ao Irã, não pode ficar de lado com respeito aos palestinos e aos esforços de paz. As duas coisas caminham de mãos dadas." Foi uma resposta a assessores do premiê que disseram a The Washington Post que Israel não empreenderia negociações de paz antes de ver os EUA conterem o programa nuclear e a crescente influência regional do Irã. Embora eu não concorde com as formas de associação que estão sendo feitas por Netanyahu e Hillary entre Irã e uma paz palestino-israelense - a questão não é como ameaçar o Irã, mas como trazê-lo para dentro da tenda -, concordo com ambos em que há um vínculo. Várias tentativas foram feitas para avançar na paz excluindo o Irã. Isso não funcionou e não funcionará agora. O truque é conduzir os esforços de paz palestino-israelense e a busca de uma reaproximação EUA-Irã em paralelo. É isso que torna tão importante Hillary ter dito a Netanyahu que ele não pode se esquivar de trabalhar pela paz - e isso significa parar agora os assentamentos - usando o pretexto do Irã. CONDIÇÕES Hillary indicou também uma importante virada sobre o Hamas, que os EUA chamam de grupo terrorista. Mesmo ressaltando que nenhum recurso fluiria para o Hamas, ela defendeu deixar em aberto opções para um possível governo de união palestino envolvendo o Hamas e o Fatah. Contanto que um governo de união cumpra três condições - renuncie à violência, reconheça o direito à existência de Israel, e obedeça acordos passados - os EUA estariam preparados para lidar com ele, indicou Hillary. Uma política americana modificada faz muito mais sentido que a anterior, que insistia apenas que o Hamas preenchesse as três condições. Nenhuma paz pode ser alcançada fingindo que o Hamas não existe, razão pela qual o avanço da união palestina deve ser uma prioridade americana. Essa mudança sensata irritará Israel, apesar de ele tratar com o Hamas via Egito. A posição de Israel sobre o Hamas - de que ele deve reconhecer Israel antes de qualquer conversação - é antagônica à metodologia de fato de Israel desde 1948. Assim, esta é uma semana em que saúdo Hillary, apesar de sua referência a "sanções paralisantes" contra o Irã se a proposta de reaproximação fracassar ter sido um erro. Sanções não funcionaram e não funcionarão. * Roger Cohen é escritor e colunista

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