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Hollande, duas mulheres e um caso de ciúme

Valérie Trierweiler, namorada do líder francês, apoia adversário de ex-mulher do presidente

Por ANDREI NETTO , CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

Concentrado em obter uma ampla maioria na Assembleia Nacional nas eleições parlamentares, o presidente da França, François Hollande, enfrentou ontem um inesperado obstáculo político a cinco dias da votação.

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Pelo Twitter, sua namorada, a primeira-dama Valérie Trierweiler, anunciou apoio a um adversário político de uma das principais lideranças do Partido Socialista (PS), Ségolène Royal, aspirante a deputada. O assunto se limitaria à esfera pública caso não tivesse um componente privado: a candidata é ex-mulher do chefe de Estado.

A cena de ciúmes veio à tona na manhã de ontem, quando Valérie escreveu: "Boa sorte a Olivier Falorni, que merece, que luta ao lado dos moradores de La Rochelle há tantos anos com um compromisso altruísta".

A mensagem pareceria apenas uma demonstração de apoio a um candidato, não fosse a circunstância da eleição na circunscrição de La Rochelle. Falorni é um dissidente do PS que rejeitou abrir mão de sua candidatura a deputado em favor de Ségolène Royal.

A ex-candidata a presidente em 2007 escolheu o distrito para se candidatar esperando vencer com facilidade, mas o resultado foi mais apertado do que o imaginado. No domingo, Ségolène obteve 32,03% dos votos no primeiro turno do pleito, enquanto Farloni obteve 28,91% da preferência.

Ambos os candidatos passaram para o segundo turno, e os prognósticos apontam uma disputa acirrada, no qual o fiel da balança será o já eliminado candidato da União por um Movimento Popular (UMP), partido do ex-presidente Nicolas Sarkozy.

Como Ségolène é um dos expoentes do PS, a UMP tende a apoiar Farloni, uma forma de eliminar do cenário político francês um peso-pesado dos socialistas. Se eleita, a ex-mulher de Hollande já afirmou que se candidatará ao cargo de presidente da Assembleia Nacional, o terceiro posto mais importante da república.

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Para evitar um desastre, os caciques do PS lançaram-se numa cruzada em favor de Ségolène. Mas o elemento que pode ter detonado o ataque de ciúmes de Valérie teria sido um folheto distribuído pela equipe de Ségolène Royal, no qual ela recebe o apoio explícito de Hollande.

Em sua mensagem, o presidente afirma: "Ségolène Royal é a única candidata da base de apoio presidencial que pode se valer de meu apoio". Ele ainda define a ex-mulher como "uma voz forte", "que conta".

Em meio a esse cenário de disputa política acirrada, o Twitter da primeira-dama causou indignação e revolta dentro do PS e escândalo na oposição.

Controle de danos. Martine Aubry, secretária-geral do PS, foi dura. "O apoio do presidente é a única coisa que conta", disse ela, tentando amenizar a repercussão política do caso. "A senhora Trierweiler não é política, logo não cometeu um erro político."

À noite, o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault também saiu em defesa da ex-mulher do presidente. "Acabo de deixar um encontro com François Hollande. Sua posição é clara: ele apoia como eu a candidatura de Ségolène Royal", disse ele.

O caso não é a primeira demonstração de ciúmes de Valérie Trierweiler. Elas são frequentes, segundo revelou ontem a imprensa francesa.

Em entrevista, a primeira-dama já afirmou ter preferido se abster em 2007 a votar em Ségolène e já cobrou por SMS jornalistas que escreveram reportagens apresentando Thomaz Hollande como "o filho mais velho do casal Hollande-Royal".

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No dia da vitória de Hollande, em 6 de maio, pediu beijo na boca em frente à ex-mulher do presidente durante a festa na Praça da Bastilha. A ironia é que Valérie Trierweiler, repórter de política da revista semanal Le Point, sabe a repercussão que suas declarações têm.

A julgar pelo papel de ontem, ela parece estar disposta a escrever uma nova novela no Palácio do Eliseu, depois dos cinco anos de badalação e crítica em torno de Sarkozy e Carla Bruni.

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