Honduras: Avião de Zelaya é impedido de pousar em Tegucigalpa

Confrontos entre manifestantes e soldados na capital deixam pelo menos um morto.

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Por BBC Brasil
Atualização:

O avião do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, foi impedido de pousar no aeroporto de Tegucigalpa neste domingo e precisou fazer uma parada rápida na capital da Nicarágua, Manágua. A aeronave deve se dirigir a El Salvador onde Zelaya se encontrará com outros líderes de países da América Latina que estão naquele país. Por telefone, dentro do avião, Zelaya afirmou que os soldados leais ao governo interino bloquearam a pista de pouso e o alertaram que poderiam atacar o avião caso a aeronave tentasse pousar. Zelaya enviou uma mensagem ao comandante do Exército hondurenho, general Romeo Vazquez. "General, não destrua seu próprio povo e sua própria família. Nos ajude a tentar convencê-los (os responsáveis pela deposição do presidente) a reconsiderarem suas ações. O povo está nas ruas e eles não podem governar." "Eles (os que depuseram o presidente) foram rejeitados por todos os países do mundo. Pare seus soldados, general, peço isso a você com todo meu amor como um cidadão hondurenho e como seu amigo. Pare o massacre em nome de Deus", pediu Zelaya. Pelo menos uma pessoa morreu neste domingo quando soldados dispersaram a manifestação a favor do presidente deposto no aeroporto de Tegucigalpa. Milhares de pessoas tentaram chegar ao aeroporto quando o avião de Zelaya deixou Washington tentando voltar para Honduras. Os soldados dispararam gás lacrimogêneo contra os manifestantes no aeroporto de Tegucigalpa e arredores, que teriam respondido com pedras, e a multidão invadiu um cordão de isolamento enquanto esperava pelo avião de Zelaya. Segundo informações de hospitais locais e da polícia, além do manifestante morto, outras pessoas ficaram feridas no confronto. Ameaça De acordo com o correspondente da BBC em Tegucigalpa Stephen Gibbs, o governo interino afirmou que qualquer tentativa de pousar com o avião do presidente deposto será uma violação internacional das regulamentações de tráfego aéreo. E ameaçou Zelaya de prisão caso ele volte ao país. Neste domingo, o ministro das Relações Exteriores de Honduras, Enrique Ortez, disse em entrevista à emissora de rádio local HRN que o presidente deposto não terá autorização para pousar no país. "Dei ordens para que não se deixe entrar, venha quem venha, para que não se cometa a imprudência de que morra um presidente da República, que se vá ferir um presidente da República ou que morra quem quer que seja", afirmou. O avião de Zelaya decolou de Washington, onde o presidente deposto participou, no sábado, da reunião de emergência da Organização dos Estados Americanos (OEA). No voo com o presidente deposto estava o presidente da Assembleia Geral da ONU, Miguel D'escoto Brockmann e vários jornaistas. A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, o líder do Equador, Rafael Corrêa e o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, foram para El Salvador para monitorar os acontecimentos e devem se reunir com Zelaya. Os militares - com o apoio do Congresso e do Judiciário de Honduras - retiraram Zelaya da presidência no dia 28 de junho, um ato que foi condenado pela comunidade internacional e que resultou na suspensão de Honduras da OEA. Tensão Em compasso de espera, a capital hondurenha viveu um fim de semana tenso. No sábado, milhares de manifestantes favoráveis ao presidente afastado marcharam desde o centro da cidade até a região do aeroporto de Toncontin, carregando cartazes e faixas em defesa de Zelaya. Do outro lado, manifestações contra Zelaya o comparavam ao presidente venezuelano, Hugo Chávez. O presidente afastado de Honduras estava sendo criticado porque pretendia realizar uma consulta popular para reformar a Constituição e, assim, abrir caminho para uma possível nova candidatura – um estilo "à la Chávez", na visão de seus críticos. O presidente deposto havia conclamado seus correligionários a ir às ruas recebê-lo, mas ressaltara que o fizessem "desarmados". O cardeal Óscar Rodriguez, líder da Igreja Católica hondurenha, havia pedido, em um pronunciamento feito à TV no sábado, que o presidente afastado não regressasse a Honduras, uma vez que isso poderia causar um "banho de sangue". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.