Honduras levanta 5 das 6 acusações contra Zelaya

PUBLICIDADE

Por Roberto Simon
Atualização:

Sob forte pressão da Organização dos Estados Americanos (OEA), a Justiça hondurenha aceitou levantar cinco das seis acusações que pesam contra o ex-presidente Manuel Zelaya. A decisão é mais um passo em direção à volta do líder deposto a Honduras - precondição imposta por países como Brasil, Argentina e Venezuela para normalizar as relações bilaterais e readmitir Tegucigalpa na OEA. Eleito em novembro, o presidente de Honduras, Porfírio "Pepe" Lobo, garante que o deposto pode retornar "quando quiser". Zelaya, porém, teme que a Justiça ordene sua prisão assim que ele pisar país.Em condição de anonimato, uma autoridade hondurenha disse ao Estado que a pressão da OEA fez o Judiciário hondurenho recuar em praticamente todas as acusações contra o deposto - a maioria delas formalizadas antes do golpe. A única que restou diz respeito à decisão de Zelaya de retirar dinheiro do Banco Central para pagar a conta da consulta popular que ele insistia em realizar. Desautorizada pela Suprema Corte e pelo Congresso, a votação abriria caminho para uma Constituinte e foi o estopim da crise. "As negociações a respeito desse último processo continuam por debaixo dos panos", explica a fonte de Tegucigalpa. "Se aceitarem dar a Zelaya o direito de responder em liberdade, provavelmente deve haver algum acordo final." Em consonância com a retirada das acusações, o chefe do Ministério Público de Honduras, Luis Alberto Rubi, teria trocado o tom duro adotado contra Zelaya desde o golpe por um discurso conciliatório."Bobagem". Um ano após a queda de Zelaya, a negociação nos bastidores para a volta de Honduras ao sistema interamericano continua intensa. Na semana passada, Lobo admitiu ter feito uma reunião "secreta" em Miami com o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza. O hondurenho teria proposto a criação de um tribunal especial, separado da Suprema Corte, para julgar os crimes de Zelaya que não foram anulados pela anistia decretada no ano passado.O embaixador brasileiro na OEA, Rui Casaes, garante que o Brasil não está diretamente envolvido nas negociações com a Justiça hondurenha. Segundo ele, "não há dificuldades" com o Executivo, comandado por Lobo, que já aceitou a volta de Zelaya. "Lobo é, ele mesmo, vítima dessa situação", diz Casaes. O problema seriam as "ameaças" da Justiça que impedem a volta do deposto ao país.O fato de países-membros da OEA exigirem uma nova posição do Judiciário hondurenho não é uma ingerência, segundo o embaixador. Essa acusação, diz ele, é uma "bobagem". " Honduras vive uma situação singular. É o primeiro caso na região em que houve um golpe e, em seguida, eleições que estavam previamente organizadas", disse.Para lembrarUm golpe de Estado derrubou o presidente Manuel Zelaya em junho de 2009, quando ele tentava aprovar uma Constituinte, que havia sido vetada pelo Congresso e pela Justiça. Em 21 de setembro, Zelaya voltou ao país e buscou abrigo na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.