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Hora de ser paciente com Pyongyang

Por Hans Blix e THE GUARDIAN
Atualização:

O que ocorre quando pessoas desesperadas mantêm grupos de reféns em aviões ou bancos? Algumas vezes, a polícia ou o Exército adotam uma ação rápida ou tentam algum ardil para eliminar o perigo. Em outras, não tomam nenhuma medida, temendo que os reféns sejam mortos. Frequentemente, mas nem sempre, o cansaço e a exaustão respondem pelo fim do drama. Estamos numa situação similar em relação à Coreia do Norte? As grandes potências reconhecem que a ameaça ou o uso da força militar não é a opção. Uma ação contra alvos-chave na Coreia do Norte dificilmente será rápida para impedir que o regime cause danos terríveis para a Coreia do Sul e talvez para o Japão. E nem seria necessário usar armas nucleares, pois Seul está ao alcance da artilharia norte-coreana. Um colapso do Estado norte-coreano também seria um pesadelo. Então, por que não conversar? É o que vem sendo feito com certo sucesso há muitos anos e sem dúvida vai continuar. Os EUA ameaçaram e aumentaram a pressão, e a situação ficou mais perigosa. No entanto, os americanos parecem ter concluído que, para convencer a Coreia do Norte a abandonar seu programa nuclear, é preciso oferecer ao país algo mais útil do que armas nucleares e programas de mísseis. Por outro lado, o regime sabe que, para abandonar esses programas, pode exigir muito. O regime norte-coreano tem tido boas razões para temer as iniciativas para eliminá-lo por meio de ações externas - ataques militares ou atividades subversivas. Portanto, parece prudente oferecer, numa negociação, garantias contra aquele tipo de ação. Para Pyongyang, a questão pode ser o que lhe dará mais segurança - armas nucleares do seu próprio arsenal ou um documento assinado. O regime norte-coreano foi isolado. Assim, uma proposta de relações diplomáticas com EUA e Japão e relações normais com o mundo em geral pode ter um valor considerável em troca da suspensão do programa nuclear. Muitas outras ofertas podem e já fazem parte desse processo de convencimento, como de alimentos e assistência econômica nas suas mais variadas formas, assistência energética - como petróleo. Pode-se estabelecer alguns limites ao poder de persuasão do governo chinês, mas ele é importante. Uma Coreia do Norte com capacidade nuclear lançando mísseis contra o Japão pode levar Tóquio numa direção que só vai aprofundar as tensões com a China. Assim, embora o Conselho de Segurança e todos os demais condenem esses últimos testes realizados pela Coreia do Norte, uma retomada das conversações é o desejável em vez de novas sanções. É preciso que nas conversações entre as seis potências sejam encontradas fórmulas que tragam benefícios a todas as partes. E elas não devem estabelecer uma inspeção para se verificar se algum material físsil não declarado esteja oculto, mas tem de haver garantias contra uma possível produção desse tipo de material. E se o regime norte-coreano continuar entendendo que somente a demonstração do seu poderio militar é que pode garantir sua existência? Neste caso, temos de ser pacientes, procurar evitar a proliferação e esperar mais um dia. *Hans Blix é presidente da Comissão sobre Armas de Destruição em Massa (WMDC) do governo sueco e ex-chefe da equipe da ONU de inspeção de armas no Iraque

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