
08 de abril de 2016 | 05h00
CAIRO - O cessar-fogo firmado em fevereiro na Síria entre forças do regime de Bashar Assad e opositoras permitiu a chegada de comboios que ajudaram a reduzir as consequências humanas do conflito, mas a situação nas áreas sitiadas ainda é crítica, com mortes e bombardeios a hospitais, segundo o relatório da organização Médicos Sem Fronteira (MSF), divulgado ontem.
“O catálogo de horrores continua praticamente inalterado em muitas áreas sitiadas”, afirmou ontem o diretor de Operações da organização, Bart Janssens. “Ao longo das últimas duas semanas, nas áreas sitiadas na região de Damasco, um médico foi morto por um franco-atirador, dois dos hospitais que apoiamos foram bombardeados, bairros sitiados continuam sendo alvo e a ajuda médica ainda está bloqueada ou restrita.”
O médico ressaltou a necessidade “urgente” de se fazer retiradas por motivos médicos e do fornecimento contínuo de suprimentos. O relatório destacou, como exemplo, a situação de Zabadani, uma das cidades sitiadas, onde o único médico e um membro da equipe de resgate foram mortos a tiros depois de prestarem socorro a um ferido.
Em geral, segundo o relatório da MSF, restam poucos médicos na maioria das áreas sitiadas e, em algumas, não há nenhum. “Alguns fugiram para salvar suas vidas e muitos foram mortos em bombardeios ou outros ataques”, ressalta o relatório. No ano passado, segundo a organização, 23 profissionais médicos sírios apoiados pela MSF foram mortos e 58, feridos.
O relatório divulgado ontem mostrou que nas 40 instalações médicas regularmente apoiadas por MSF em áreas sitiadas da região de Damasco, poucos pacientes foram autorizados a serem retirados para receber tratamento médico. De acordo com a organização, há uma longa lista de pacientes em estado grave que precisam de tratamento vital não disponível na região.
Em Madaya, na semana passada, segundo a organização, cinco pessoas morreram e três dessas mortes poderiam ter sido evitadas se o apelo para a retirada delas tivesse sido atendido. O relatório detalha que uma criança morreu enquanto brincava com um explosivo, um idoso aparentemente morreu de uma doença vascular cerebral que não pôde ser tratada e um jovem sofreu uma desnutrição mortal.
Esse último caso não é o único. Segundo a MSF, apesar da chegada dos comboios, mais de cem casos de desnutrição foram identificados pela equipe médica em Madaya e sete casos graves foram diagnosticados em Madamiyeh.
Em algumas áreas, como Daraya e Duma, o acesso de qualquer ajuda humanitária oficial está totalmente bloqueado. “O impedimento recorrente do acesso aos bairros sitiados de Barzeh, próximo de Damasco, e EI Waer, próximo de Homs, é alarmante”, destacou o relatório.
“Mesmo quando os raros comboios de ajuda internacional recebem permissão para entrar em áreas sitiadas, médicos apoiados por MSF relatam a falta de itens médicos vitais essenciais, como suprimentos cirúrgicos e anestésicos e bolsas de sangue”, aponto o relatório.
Além da falta de recursos e da impossibilidade de prestar a assistência adequada, a organização denunciou os bombardeios que continuaram, apesar do cessar-fogo.
“Na semana passada, dois hospitais apoiados por MSF, uma escola próxima e prédios desabitados nos subúrbios sitiados de Goutha Oriental foram bombardeados, deixando ao menos 38 mortos e 87 feridos – 5 deles eram profissionais médicos.”
Nas últimas semanas, diversas áreas sitiadas da região de Damasco, onde MSF presta apoio a instalações médicas sírias, foram atingidas por bombardeios, incluindo Al Marj, Deir Al Safir e Zebdine.
“Reiteramos nosso pedido pelo fim da violência indiscriminada ou direcionada a civis ou áreas civis”, afirmou Janssens.
Palmyra. Os primeiros deslocados de Palmyra poderão retornar à cidade amanhã, depois que o Exército sírio expulsou da cidade os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI), informou à agência France Presse um funcionário do governo local.
O Exército sírio retomou o controle de Palmyra e das ruínas da região no dia 27. A cidade estava sob poder do EI desde maio de 2015, o que obrigou milhares de pessoas a buscar refúgio em Homs (centro). / COM AFP
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