Hungria ordena que TV estatal não mostre imagens de crianças refugiadas

Meta é 'não gerar compaixão entre o público'

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Por JAMIL CHADE e PASSAU
Atualização:

PASSAU, ALEMANHA – A crise dos refugiados fez surgir uma batalha travada bem distante da Síria: a guerra de comunicação para influenciar a opinão pública europeia. Enquanto o bloco ainda tenta compreender o mal-estar criado pela foto do garoto de 3 anos afogado nas contas da Turquia, alguns governos deliberadamente não querem criar um sentimento de simpatia da população em relação aos estrangeiros.

O caso mais contundente foi registrado pela ONU na Hungria. O porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Refugiados, Babar Baloch, indicou que foi informado que a TV estatal húngara recebeu orientações das autoridades para "não mostrar imagens de crianças refugiadas". O motivo: "isso geraria compaixão entre o público". 

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Em outros países, como Polônia e Eslováquia, o apelo também das autoridades é o de evitar "histórias pessoais" das famílias que cruzam as fronteiras.

Uma atitude bem diferente foi estabelecida pelo governo alemão, que passou a bancar a chegada de centenas de refugiados. Depois de ataques xenófobos em centros de acolhida, uma série de campanhas foi lançada para permitir que a população entendesse o que vai ocorrer nos próximos meses, quando um total de 800 mil pessoas chegarão ao país. 

Uma das campanhas é a "Nós ajudamos", com a participação de personalidades alemãs como o jogador Lukas Podolski, o chefe da Daimler, Dieter Zetsche, e o cantor Klaus Meine. Todos se mobilizam no que parte da imprensa chama de "ação contra o ódio". 

O tabloide Bild ainda publicou um editorial da escritora Herta Mueller com um título muito direto: "eu também fui refugiada". "Todos que abandonaram o país e fugiram do Nazismo foram salvos. A Alemanha agora precisa fazer a outros o que outros países fizeram por ela", escreveu. 

Tikka, um dos canais de televisão apara jovens na Alemanha, promoveu na noite de ontem uma campanha para adolescentes entenderem a crise de refugiados. 

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Na pequena cidade de Passau, na fronteira entre a Alemanha e a Áustria, a Polícia Federal faz questão de levar os jornalistas aos locais onde acolhe os refugiados, como forma de demonstrar que Berlim está fazendo tudo o que pode para acolher os milhares de sírios. 

Mas entidades da sociedade civil alertam que a integração não é tão simples como as autoridades tentam mostrar. "Todos os centros de acolhida aos refugiados foram colocados fora da cidade e longe do centro", explicou um representante da entidade No Borders, que se dedica a garantir os direitos dos estrangeiros na Alemanha. "As autoridades não querem mil refugiados circulando pelo centro histórica do local", disse. 

Para um dos membros do Comitê de Inquérito da ONU para os Crimes na Síria, Vitit Muntarbhorn, um dos fatores mais importantes para criar condições para solucionar a crise dos refugiados será construir uma "sociedade que tenha empatia pela situação". Para ele, porém, isso vai exigir "líderes políticos esclarecidos". 

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