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Ídolo de Obama, Lincoln ainda magnetiza país

Washington festeja bicentenário do presidente, arquétipo americano

Por Michael E. Ruane e WASHINGTON
Atualização:

Os EUA celebraram ontem os 200 anos de nascimento de Abraham Lincoln, venerado como um santo nacional - parte homem, parte mito. Restos do presidente, como fios de cabelo e fragmentos de ossos, são quase sagrados. Tudo o que escreveu ou disse é lembrado com respeito. Mas Lincoln ainda é um mistério. "Ele é, ao mesmo tempo, acessível e inatingível", diz o historiador Harold Holzer. Lincoln disse detestar a escravidão, mas a manteria para salvar a União. Falava de religião, mas nunca pisou numa igreja. No auge de seu prestígio, foi assassinado. Tudo isso alimenta a obsessão por um presidente martirizado, que, segundo historiadores, é visto como o arquétipo do americano: nascido numa região miserável do Kentucky, aprendeu a ler e escrever à luz de velas. Cresceu para ser o salvador do país, o inimigo da escravidão, e foi sacrificado na Sexta-Feira Santa de 1865. As cerimônias do bicentenário de Lincoln ocorreram no monumento em sua homenagem, no National Mall. O Teatro Ford, onde Lincoln foi morto a tiros pelo ator John Wilkes Booth, em 14 de abril de 1865, foi reinaugurado depois de uma reforma. O Congresso saudou-o na rotunda do Capitólio, onde seu corpo ficou exposto em num caixão de pinho. O Museu de História de Chicago mantém um setor com relíquias de Lincoln, onde estão guardados um pente, a cama e duas metades de um dólar, que teriam sido colocadas sobre os seus olhos depois que ele morreu. Louise Taper, colecionadora da Califórnia, recentemente vendeu parte de um lote de objetos de Lincoln por US$ 20 milhões. Um dos discursos do presidente foi vendido ontem num leilão por US$ 3,4 milhões. É tamanho o respeito por Lincoln que a comissão encarregada dos festejos para seu bicentenário calcula que 16 mil livros foram escritos sobre ele desde 1865. Até o presidente Barack Obama entrou na onda: usou a Bíblia de Lincoln em sua posse e repetiu parte da viagem de trem realizada por ele a Washington antes de assumir o cargo. Ontem, Obama participou de uma cerimônia em homenagem a seu ídolo. "Nos identificamos e procuramos aproveitar essa história de oportunidade redentora", disse Holzer. "A cristalização do sonho americano é que torna isso tão atraente." Claro que existem falhas nessa saga. Para alguns críticos, a guerra, com todos os gastos que produziu e a carnificina que provocou, podia ter sido evitada. Outros censuram a Proclamação de Emancipação de Lincoln, que declarou livre apenas parte dos escravos dos EUA, e alguns afirmam que ele foi longe demais ao sufocar a dissensão no Norte. Segundo Frank Williams, presidente da Suprema Corte de Rhode Island, recentemente aposentado, que possui coleção de objetos relacionados a Lincoln, "queremos pensar que ele é nosso reflexo e representa o melhor do que podemos ser". ÍCONE Harold Holzer Historiador "Ele (o ex-presidente Abraham Lincoln) é, ao mesmo tempo, acessível e inatingível" Frank J. Williams Presidente da Suprema Corte de Rhode Island "Queremos pensar que ele (Lincoln) representa o melhor do que podemos ser"

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