Iemenitas homenageiam mortos; conversas estão paradas

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Por MOHAMMED GHOBARI
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Iemenitas homenagearam na quinta-feira as dezenas de pessoas mortas em semanas de protestos de rua pedindo a renúncia do presidente Ali Abdullah Saleh, enquanto continuavam os esforços para negociar a saída dele do poder no próximo ano. Semanas de protestos em Sanaa e outras partes do país levaram o governo de Saleh, no poder há 32 anos, à beira do colapso, mas os Estados Unidos e a Arábia Saudita, importante fonte de apoio financeiro ao empobrecido vizinho, estão preocupados com quem possa suceder seu aliado. Um diplomata ocidental sênior disse que Saleh, cujas declarações em alguns momentos deram a impressão de que ele se prepara para deixar a Presidência em breve, mas em outros pareceram indicar que ele pretende permanecer até o final de seu mandato, está dividido em relação ao que fazer. "Meu palpite é que ele está muito dividido e que as declarações que ouvimos dele são feitas em função dessa dúvida interna", disse o diplomata à Reuters. Na terça-feira, Saleh se reuniu com Mohammed al-Yadoumi, chefe do partido islâmico Islah, que foi parceiro de seu governo no passado. Saleh buscava meios de continuar na Presidência enquanto são organizadas novas eleições parlamentares e presidenciais para serem realizadas até o final do ano, disse uma fonte da oposição. As discussões ficaram paralisadas, e não ficou claro quando podem ser retomadas. A Arábia Saudita resiste aos esforços do governo iemenita de envolvê-la como mediadora. Manifestantes acampados diante da Universidade de Sanaa desde o início de fevereiro insistem que Saleh deixe o poder logo. O presidente já declarou que não vai se candidatar à reeleição em 2013. Grupos que se intitulam a Revolução da Juventude disseram na quarta-feira que querem o julgamento de corruptos, a devolução de "bens públicos e privados roubados", a libertação de prisioneiros políticos, a dissolução das forças de segurança e o fechamento do Ministério da Informação --medidas tomadas na Tunísia e no Egito depois de levantes semelhantes terem afastado líderes entrincheirados no poder. Na quinta-feira o protesto reuniu dezenas de milhares de pessoas que vieram recordar os 82 manifestantes mortos até agora, entre os 52 mortos a tiros por atiradores de elite em 18 de março. "O povo quer que o açougueiro vá a julgamento", gritaram. Algumas pessoas usavam túnicas brancas com as palavras "futuro mártir" escritas sobre elas, para destacar sua determinação em continuar protestando até Saleh partir. "O melhor cenário possível seria que fosse selado um acordo e que as duas partes fossem ao Parlamento e iniciassem a implementação do acordo", disse o diplomata. A oposição afirma acreditar que Saleh esteja manobrando para evitar limitações às atividades políticas futuras de sua família e obter a garantia de que ela não será processada por corrupção. Washington há muito tempo vê Saleh como baluarte de estabilidade que poderá impedir a Al Qaeda de ampliar sua presença no Iêmen, país que muitos vêem como estando perto de se desintegrar. A ala da Al Qaeda no Iêmen reivindicou uma tentativa fracassada no final de 2009 de explodir um avião comercial a caminho de Detroit e o envio de pacotes de explosivos destinados aos EUA, em outubro de 2010. Na quarta-feira o pregador Anwar al-Awlaki, figura sênior da ala da Al Qaeda no Iêmen, saudou as revoltas no mundo islâmico, que, afirmou, darão aos islâmicos maior liberdade para se manifestarem. (Reportagem adicional de Cynthia Johnston)

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