Igreja chinesa diz a Vaticano que não voltará ao "semifeudalismo"

Os conflitos entre Pequim e o Vaticano desencadeados pela escolha unilateral de bispos parecem estar longe de uma resolução

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A Igreja Patriótica Católica Chinesa, desvinculada do Vaticano, "nunca voltará ao semicolonialismo ou ao semifeudalismo, nem voltará a ser submissa ao domínio estrangeiro", disse nesta terça-feira seu porta-voz em declarações à agência oficial Xinhua. A declaração foi uma resposta às pressões do Vaticano sobre a escolha de bispos. Em entrevista à agência, o vice-presidente e porta-voz da Igreja chinesa, Liu Bainian, defendeu a escolha de bispos independentemente do Vaticano ao afirmar que "a prática de eles serem designados pelo Papa começou há apenas 200 anos". Liu disse que, na maior parte da história do catolicismo, o bispo foi "eleito pelos fiéis, confirmado pelo imperador e consagrado por uma diocese vizinha". As palavras do porta-voz da Igreja Patriótica - que, além de estar em conflito com Roma devido à recente eleição dos três bispos, é dependente do Partido Comunista da China -, são um novo desafio para as negociações entre Pequim e o Vaticano, iniciadas com o objetivo de restabelecer as relações diplomáticas rompidas em 1951. "O próspero desenvolvimento da Igreja chinesa deve-se totalmente à prática nacional, com muitos anos de tradição, de se escolher e ordenar seus próprios bispos", acrescentou o porta-voz Liu. Como prova desse desenvolvimento, ele assinalou que o número de católicos na China aumentou de 2,7 milhões, em 1958, para os mais de 5 milhões da atualidade. No entanto, o Vaticano garante que existem na China 12 milhões de católicos que reconhecem o Papa. Além disso, denuncia a "perseguição" daqueles que são obrigados a realizar suas cerimônias na clandestinidade. Liu disse também que, se não fosse pela Igreja Patriótica, muitas das 97 dioceses chinesas estariam agora sem bispo. "Uma diocese sem bispo é o mesmo que não haver Igreja", assegurou Liu, que lembrou que, em 1980, logo após a Revolução Cultural chinesa, apenas 33 paróquias tinham prelados. Por este motivo, Pequim teve que começar a escolher muitos deles. O porta-voz também negou que os católicos chineses e seus sacerdotes estejam isolados do Vaticano ou de outras comunidades católicas, destacando que 200 padres viajaram ao estrangeiro para melhorar sua formação. Liu reconheceu, no entanto, que apenas 100 deles retornaram à China após esse período de formação. A escolha unilateral de bispos desencadeou este mês uma grande polêmica entre Pequim e o Vaticano, que chegou a ameaçar com a excomunhão os novos prelados e aqueles que os ordenaram. Para o restabelecimento das relações diplomáticas entre ambos (um dos desafios pessoais do Papa Bento XVI), a China exige que o Vaticano rompa seus laços bilaterais com Taiwan e não intervenha assuntos internos do país asiático. Entre estes, Pequim identifica a escolha dos bispos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.