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Imigrante ilegal empregada em clube de golfe de Trump diz que sofreu abuso físico

Victorina Morales alega que maus tratos de seu superior a motivaram a revelar sua identidade e sua situação; advogado da imigrante guatemalteca diz que considera processar Organização Trump por possíveis violações das leis antidiscriminação

Atualização:

BEDMINSTER, EUA - Victorina Morales, uma doméstica em situação ilegal nos Estados Unidos empregada por um clube de golfe de propriedade do presidente americano, Donald Trump, afirmou que decidiu revelar sua identidade e sua situação trabalhista em razão dos maus tratos por parte de seu supervisor no campo de golfe, incluindo o que ela descreveu como "abuso físico" em três ocasiões.

Depois de o jornal New York Times revelar o caso envolvendo Victorina e uma ex-funcionária do resort em uma extensa matéria publicana na quinta-feira, a imigrante guatemalteca conversou também com o diário The Washington Post, dessa vez acompanhada por seu advogado.

Victorina Morales, imigrante guatemalteca empregada em clube de golfe de Donald Trump, alega ter sofrido agressões físicas de seu superior Foto: Christopher Gregory/The New York Times

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Ela disse que continuava empregada no local e estava escalada para trabalhar nesta sexta-feira, mas que não planejava comparecer ao Trump National Golf Club, na cidade de Bedminster.

"Estou cansada de ser humilhada e tratada como uma pessoa idiota", afirmou em espanhol durante a breve entrevista. "Somos apenas imigrantes que não têm os documentos legais."

A Agência de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, em inglês), responsável por prender e deportar imigrantes ilegais, não se posicionou sobre a situação de Victorina.

"Temos dezenas de milhares de funcionários em nossas propriedades e temos práticas muito rígidas de contratação", disse a porta-voz da Organização Trump, Amanda Miller, em e-mail enviado ao Post que não trata, no entanto, do caso específico de Victorina.

Várias empresas de Trump usam sistema eletrônico para verificar situação legal de trabalhadores; clube de golfe de Bedminster, em New Jersey, é uma das que não está no E-Verify Foto: AP Photo/Julio Cortez

"Se qualquer empregado forneceu documentos falsos em uma tentativa de burlar a lei, ele será demitido imediatamente", completou Amanda.

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Anibal Romero, advogado de Victorina, disse que ajudará sua cliente a preencher o pedido de asilo em razão de ameaças recebidas por sua família na Guatemala - o sogro dela foi morto em um ataque com um facão. Ele também afirmou que ela não foi contactada por autoridades de imigração dos EUA e não foi acusada de qualquer crime no país.

Romero também disse que também está considerando o que chamou de "ação empregatícia" contra a Organização Trump por possíveis violações das leis antidiscriminação do Estado em nome de Victorina e outra cliente, Sandra Diaz, que também trabalhou ilegalmente no clube de golfe.

Trump construiu sua campanha presidencial de 2016 em torno de uma postura linha dura contra a imigração ilegal. Ele defende a construção de um muro ao longo da fronteira entre os EUA e o México, deportações em massa dos imigrantes sem documentos e uma expansão do E-Verify, a ferramenta online do governo federal para verificar se os funcionários são legalmente qualificados para trabalhar.

Durante essa campanha, Trump disse que seus próprios negócios já usavam o sistema - que, na maioria dos Estados, é voluntário para os empregadores. "Estou usando o E-Verify em praticamente todos as vagas", disse Trump ao apresentador Chris Matthews, da MSNBC, durante uma entrevista em março de 2016, acrescentando: "Estou usando o E-Verify e vou lhe dizer, funciona."

Na quinta-feira, uma busca no banco de dados do governo federal sobre empregadores mostrou que alguns negócios de Trump usam o sistema, como seus campos de golfe na Carolina do Norte e na Flórida, assim como seu resort Mar-a-Lago, também na Flórida, e seus hotéis em Washington e Chicago.

Mas uma série de outra empresas do grupo Trump - incluindo o clube de golfe de Bedminster - não aparecem no banco de dados de empregadores que usam o E-Verify. O grupo Trump não comentou o motivo para algumas de suas empresas não aparecerem no sistema.

Promessa de campanha

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Oito Estados exigem que praticamente todos os empregadores usem o sistema: Alabama, Arizona, Geórgia, Mississippi, Carolina do Norte, Carolina do SUl, Tennessee e Utah.

Na disputa à presidência, Trump defendeu uma expansão da obrigatoriedade do E-Verify para todo os EUA. "Garantiremos que o E-Verify seja usado o máximo possível sob a lei existente, e trabalharemos com o Congresso para fortalecer e expandir seu uso em todo o país", declarou o então candidato em um discurso no Arizona em 2016.

Já como presidente, Trump colocou o banco de dados nacional entre suas prioridades de imigração e pediu que o Congresso aloque US$ 23 milhões no orçamento de 2019 para expandir o programa e sua obrigatoriedade de uso em todo o país.

Nos últimos meses, no entanto, ele praticamente não se pronunciou sobre o E-Verify, preferindo focar sua retórica migratória na questão da fronteira com o México e na caravana de imigrantes da América Central.

"O presidente tem cumprido apenas parte de sua promessa sobre deter a imigração ilegal ao não tirar com atração causada pela possibilidade de trabalhar ilegalmente", disse Roy Beck, presidente da NumbersUSA, um grupo que pressiona para reduzir a imigração no país. 

Beck disse que Trump "decepcionou em sua promessa de ajudar os trabalhadores americanos" porque não "apoiou efetivamente uma lei obrigando o uso do E-Verify". / THE WASHINGTON POST

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