Imigrantes haitianos entram no Brasil após três meses de espera

Grupo de 245 pessoas começa a entrar no Brasil a partir desta terça-feira; expectativa é que todos sejam contratados por empresas do sul e sudeste

PUBLICIDADE

Por Jefferson Puff
Atualização:

Após três meses de espera em Iñapari, no Peru, um grupo de 245 imigrantes haitianos obteve permissão de entrada no Brasil e começou a cruzar a fronteira nesta terça-feira, informa a Secretaria de Direitos Humanos do Estado do Acre. O plano do governo acriano é de que todos os integrantes do grupo sejam levados até a capital, Rio Branco, no máximo até o próximo domingo. Nesta terça-feira um ônibus da Secretaria da Justiça do Acre levará 30 mulheres e uma criança de seis meses de Iñapari, no Peru, até Brasileia, a cerca de 100 quilômetros da fronteira. Outras oito mulheres e 204 homens serão levados no decorrer da semana. "Daremos prioridade às mulheres, crianças e pessoas doentes. Após darem entrada em seus documentos, eles serão levados ainda hoje para Rio Branco", diz Damião Borges, da Secretaria de Direitos Humanos acriana. Além dos 245 que chegam nos próximos dias, outros 26 imigrantes haitianos que entraram de forma ilegal no Brasil aguardam em Brasileia a autorização do governo federal para emitir documentos. Comemoração e trabalho "Fizemos uma festa ontem à noite. Após tanta calamidade e sofrimento, e a viagem desde o Haiti, deixamos agora nosso agradecimento ao povo do Peru, que nos acolheu e nos deu abrigo e comida, e agora aos brasileiros, onde poderemos trabalhar e ter uma nova vida", disse à BBC Brasil Facius Etienne, o líder do grupo. "Só queremos trabalhar. Trabalhar para ajudar nossas famílias. E agora poderemos fazer isso no Brasil. É um grande prazer ver nossas mulheres arrumando as malas para partirmos. É uma alegria no coração", acrescentou. De acordo com o governo do Acre foi montado um esquema especial em Brasileia para emitir o protocolo que dá entrada no CPF e Carteira de Trabalho do grupo. Em Rio Branco, um alojamento foi montado no Parque de Exposições da cidade, onde os haitianos devem ficar até partirem para outros Estados. "Logo na semana que vem virão a Rio Branco representantes de empresas de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Eles têm interesse em contratar os imigrantes em setores como construção civil, indústria e hotelaria. Eles só sairão do Acre com CPF, Carteira de Trabalho nas mãos e um emprego", indica Damião Borges. Ele acrescenta que os 26 ilegais devem se juntar ao grupo tão logo recebam autorização, totalizando 271 haitianos em condições de viver e trabalhar no Brasil. Recentemente o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, afirmou que o governo regularizará ainda os 363 haitianos que estão em Tabatinga (AM), à espera de vistos. "Todos receberão carteira de trabalho temporária e assistência das secretarias Estaduais de Justiça do Acre e Amazonas para colocação no mercado", completou. Mudanças Conforme mostrou reportagem da BBC Brasil, o grupo em Iñapari estava a caminho do Brasil quando, em 12 de janeiro, o governo mudou os procedimentos migratórios para haitianos e passou a barrar nas fronteiras os que não tivessem vistos. Já os haitianos em Tabatinga entraram no país pouco antes da mudança, mas dependem de regularização para buscar trabalho em outras regiões do país. Na época, Juana Kweitel, diretora de programas da ONG Conectas, classificou a situação do grupo como um limbo . "Essas pessoas estavam num limbo, porque estavam em trânsito quando as mudanças foram anunciadas." Pela resolução nº 97/2012 do CNIg, definiu-se que a embaixada do Brasil no Haiti passaria a conceder cem vistos de trabalho ao mês para haitianos que quisessem morar no país. Paralelamente, a Polícia Federal passou a barrar haitianos sem visto nas fronteiras. Em visita a Iñapari no mês passado, a BBC Brasil mostrou que os haitianos dormiam em praças e dependiam de doações para se alimentar. Muitos afirmaram à reportagem ter gasto quase todas as suas economias na viagem. Para chegar à fronteira, o grupo enfrentou uma longa viagem desde a capital haitiana, Porto Príncipe. A rota se iniciou com um voo até a República Dominicana, seguido por outro até o Panamá e mais um até o Equador. De Quito, capital equatoriana, os haitianos seguiram de ônibus à Colômbia e, finalmente, ao Peru, de onde viajaram até a fronteira com o Brasil. O deslocamento levou quatro dias e consumiu, segundo alguns deles, o equivalente a R$ 3 mil. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.