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Imigrantes russos saem do gueto e testam força

Eles somam 20% da população e seu partido deve desbancar os trabalhistas

Por Daniela Kresch
Atualização:

Eles começaram a chegar maciçamente no começo da década de 90, quando o fim da União Soviética abriu caminho para um dos maiores movimentos migratórios da história recente. Em menos de 20 anos, 1,3 milhão de judeus de todas as regiões da ex-URSS - a maioria esmagadora da Rússia - desembarcaram em Israel. Ganharam a cidadania, o direito de votar e agora estão ajudando a mudar o perfil social e político do país. Hoje, um em cada cinco israelenses é imigrante russo. O peso dessa comunidade será mais uma vez comprovado na votação de depois de amanhã. Seu principal partido, o Israel Beiteinu ("Israel Nossa Casa", numa tradução do hebraico), obteve 11 cadeiras nas eleições de 2006. Mas, de acordo com as pesquisas mais recentes, deverá abocanhar 19 cadeiras na terça-feira - desbancando o Partido Trabalhista, um dos mais tradicionais do país. O Israel Beiteinu é comandado pelo ultradireitista Avigdor Lieberman, um imigrante da Moldávia (uma das 15 repúblicas da antiga União Soviética) que chegou em Israel em 1978, aos 20 anos. O fato surpreendente nesta eleição é que Lieberman está ganhando apoio de eleitores nativos, deixando de ser apenas um representante dos imigrantes, num sinal de que a minoria russa começa a ganhar peso político na sociedade israelense. Muitos, porém, ainda têm dificuldade de adaptação e costumam conviver apenas com seus compatriotas. Em algumas cidades, principalmente na periferia de Tel-Aviv, os imigrantes russos compõem até 40% dos eleitores. Há jornais, canais de TV e de rádio em russo e boa parte do comércio usa o alfabeto cirílico nas vitrines. A assimilação é lenta pela dificuldade que muitos têm em trabalhar em suas profissões. Só 35% dos imigrantes russos com diplomas universitários trabalham em suas áreas. O restante precisa se virar para ganhar vida no comércio ou fazendo bicos nas áreas de segurança ou de limpeza. A situação é mais dramática para os imigrantes que forjaram documentação judaica para poder sair da URSS quando o governo soviético impedia a emigração. Estima-se que mais de 30% dos russos que desembarcaram em Israel não são judeus - basta notar o crescimento de fiéis nas celebrações religiosas da Igreja Ortodoxa russa em cidades como Jerusalém -, o que torna a identificação com o novo país bem mais difícil. Para a caixa de supermercado Yelena Grishkow, de 38 anos, a mudança da Ucrânia para Israel foi traumática. Ela tinha 28 anos quando chegou, sem falar uma palavra de hebraico. E com duas filhas pequenas a tiracolo. "Até hoje acho tudo muito esquisito por aqui, o clima, a comida, a cultura...", diz Yelena. "Minhas amigas e clientes são quase todas russas." O aposentado Sergei Schneider, de 75 anos, também não faz esforço para assimilar os costumes locais. "Eu penso em russo e isso nunca vai mudar. Na minha idade, não adianta negar minhas raízes", diz.

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