NOVA YORK - Diferente da expectativa de escritores como Don DeLillo e de historiadores como Taylor Branch, os atentados do 11 de Setembro não causaram impactos significativos no panorama cultural norte-americano. A análise é do jornal americano The New York Times.
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De acordo com uma reportagem do diário, como reflexo dos ataques a Blockbuster incluiu alertas em filmes com cenas chocantes e obras violentas seguiram no topo da lista de produtos mais consumidos. Houve, segundo o texto no jornal, "alguns trabalhos eloquentes e ousados", mas nenhum foi de fato impactantes.
Programas como Saturday Night Live e The Onion continuaram com piadas de humor barato e Hollywood manteve os investimentos em efeitos especiais, enquanto a Broadway dobrou a quantidade de shows com celebridades como forma de garantir audiência antecipada, assegura o artigo.
Rápida mobilização
Com relação aos impactos no curto prazo, o jornal norte-americano assegura que comunidade artística se mobilizou rápido. Jane Rosenthal, Craig Hatkoff e Robert De Niro criaram o Tribeca Film Festival para ajudar a revitalizar as partes devastadas de Manhattan. Músicos como Paul McCartney, Keith Richards e Mick Jagger organizaram um show beneficente no Madison Square Garden.
Além disso, Bruce Springsteen, Neil Young e Anne Nelson lançaram discos em memória das vítimas que serviram somente para fins terapêuticos e catárticos, como afirma Michiko Kakutani, que assina o texto.
Obras engajadas
Em um segundo momento, a guerra do Iraque e as preocupações com liberdades civis durante a presidência de George W. Bush motivaram a criação de filmes e peças de teatro engajados. O jornal menciona Fahrenheit 9/11, de Michael Moore e Stuff Happens, de David Hare. "No entanto, hoje, essas obras parecem excessivamente estridentes ou óbvias", escreve Kakutani.
Séries policiais como Law & Order e CSI passaram a abordar estratégias terroristas. Outros, como The Unit e Sleeper Cell enfocaram a guerra contra o terror. No âmbito dos documentários, Kathryn Bigelow produziu The Hurt Locker, sobre um esquadrão anti-bombas no Iraque. E Gregory Burke montou a peça Black Watch com base em entrevistas com soldados que participaram da guerra.
O livro de Amy Waldman The Submission explora os impactos dos atentados nas atitudes dos norte-americanos com relação aos muçulmanos. Embora tenham alguma importância, os trabalhos não causaram mudanças importantes no panorama cultural do país, sustenta o Times.
Insensibilidade a traumas
O jornal compara a produção que seguiu a Guerra do Vietnã, com filmes como Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola. Para alguns críticos, os EUA se tornaram insensíveis a traumas, depois dos assassinatos de políticos nos anos 1960 e após passar décadas assistindo violência em tempo integral nos noticiários da televisão.
Outra teoria é que talvez ainda não tenha passado tempo suficiente para que os artistas assimilem a tragédia em seus trabalhos. Nesse sentido, relembra o jornal, vale ter em mente que León Tolstói escreveu sobre a invasão napoleônica da Rússia mais de 50 anos após o acontecimento, enquanto Pablo Picasso pintou Guernica somente algumas semanas depois do bombardeio da cidade durante a Guerra Civil espanhola, em 1937.
'Polarização tóxica' na política
Por outro lado, se os atentados não causaram mudanças significativas nas artes, no âmbito político se observou uma "polarização tóxica" e um alarmante impulso das pessoas a privilegiar crenças no lugar de fatos.
Entretanto, para o Times, tais eventos têm menos a ver com o 11 de Setembro do que com a tendência partidarista que se desenvolveu durante as administrações de Bush e Obama e também com a ascensão das mídias sociais.
Os problemas econômicos, que o jornal acredita terem sido iniciados com o 11 de Setembro e agravados com a crise de 2008, por outro lado, aceleraram movimentos como o uso da internet em novos modelos de negócios, para acessar e compartilhar música e publicar informações.