Impasse da Basílica continua, cadáveres se decompõem

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Por Agencia Estado
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Os cadáveres de dois policiais palestinos estão se decompondo rapidamente dentro da Basílica da Natividade. Do lado de fora, a guerra psicológica de Israel inclui sirenes amplificadas por alto-falantes gigantes posicionados no alto de guindastes que soam até durante a madrugada. Pistoleiros palestinos que estariam escondidos na igreja há duas semanas e disparavam contra os soldados israelenses que os perseguiam agora acusam Israel de violar este local sagrado construído no século 4 e que representa um dos mais importantes santuários do cristianismo. A cada dia que passa, as coisas ficam cada vez mais estranhas no complexo religioso contruído sobre o local onde, segundo a tradição, nasceu Jesus Cristo. E enquanto o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e o papa João Paulo II tentam obter uma solução pacífica para o impasse de duas semanas, há poucas evidências de uma resolução próxima. Um intenso tiroteio foi iniciado na noite desta terça-feira. Explosões aparentemente causadas por granadas de efeito moral eram ouvidas à distância. A única informação referente a vítimas dizia respeito a um homem baleado em Beit Sahour, nos arredores, que foi levemente ferido na perna por uma bala perdida. Israel informou que houve troca de tiros. Os palestinos alegam que os israelenses abriram fogo sem provocação. O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, disse que o Exército encerraria a invasão dentro de uma semana, mas citou dois locais aos quais o cerco terá duração indeterminada: a Basílica da Natividade, em Belém, e o devastado complexo onde se localiza o quartel-general do líder palestino Yasser Arafat, em Ramallah. Bush disse a Sharon que acabar com o confronto, onde estimados 250 pistoleiros, policiais e civis palestinos estão escondidos ao lado de clérigos cristãos, é uma das prioridades da viagem do secretário de Estado norte-americano, Colin Powell. Os esforços aplicados pelos líderes cristãos para resolver o impasse também não geraram frutos. Líderes das Igrejas Ortodoxa, Católica e Evangélica em Jerusalém entregaram a Powell uma proposta para pôr fim ao conflito: a retirada das forças israelenses durante três dias para que os palestinos possam sair da igreja e retornar em segurança para suas casas. A proposta foi considerada inaceitável por Israel. O Vaticano também envolveu-se nas negociações para acabar com o impasse, e os homens armados no interior da igreja pediram ajuda a Powell, ao papa e ao secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan. Israel diz que pretende prender cerca de 30 homens armados escondidos no interior da basílica, apesar de insistir em que não invadirá o local. "Esta igreja está aqui há 1.700 anos. O Exército de Israel não gostaria de danificar um local tão sagrado", declarou o major israelense Tal Ravlan. Dentro do complexo, que consiste em diversas construções antigas, a escassez de comida permite apenas uma refeição diária com arroz, batatas e macarrão na hora do almoço. A maior parte das pessoas dorme no chão. Também não há chuveiros suficientes para que todos tomem banho diariamente. Apesar de o Exército israelense ter prometido que não atacará a igreja, policiais e militantes palestinos fazem vigília em tempo integral. "Nós achamos que os soldados de Israel invadirão", comentou Mohammed Madni, governador de Belém e um dos civis no interior da basílica. Apenas algumas pessoas que estavam no interior da igreja aceitaram uma proposta israelense para deixar o local. Ontem, mais duas pessoas saíram - um policial baleado no abdome e um civil que aparentemente estava sofrendo uma crise nervosa.

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