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Império financeiro de Bin Laden pode ter bancado operações anti-EUA

Por Agencia Estado
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Criação de avestruzes no Quênia. Cultivo de florestas na Turquia. Comércio de diamantes na África. Investimentos em agricultura no Tadjiquistão. Criação de camelos no Sudão. Estes são apenas alguns dos negócios atribuídos a Osama bin Laden, possibilitando que ele nade em dinheiro, invista em operações terroristas e financie uma rede de aproximadamente 3.000 combatentes. "O dinheiro é a última das preocupações de Osama bin Laden", disse Faisal Salman, jornalista especializado em assuntos árabes. O principal suspeito por atos terroristas em todo o planeta financia sua guerra contra a fortaleza do capitalismo com rendimentos obtidos justamente por meio de empreendimentos capitalistas. Império valeria US$ 300 milhões Apesar de estimar que os bens de Bin Laden sejam muito diversificados, um relatório encomendado pelo Congresso dos Estados Unidos estima sua riqueza em cerca de US$ 300 milhões. Além de seus diversos investimentos, Bin Laden é beneficiário de uma enorme herança familiar e recebe doações de pessoas muito ricas. É difícil calcular com exatidão quanto dinheiro foi empregado nos ataques de terroristas suicidas perpetrados há uma semana contra o World Trade Center, em Nova York, e o Pentágono, em Washington. Ataque nos EUA teria custado US$ 1 milhão Mas especialistas dizem que toda a operação - incluindo o treinamento dos pilotos, acomodação, despesas de viagens e passagens de primeira classe para os seqüestradores - não deve ter custado mais de US$ 1 milhão, quantia da qual Bin Laden poderia facilmente dispor. A riqueza de Bin Laden e suas ligações com prósperas famílias da Arábia Saudita e outros países do Golfo Pérsico não eram causa de preocupação para os países ocidentais - inclusive os Estados Unidos - durante a década de 80. Bom menino Na época, ela era um dos bons meninos, utilizando seu dinheiro para comprar armas e suprimentos para a guerra contra os soviéticos no Afeganistão, um conflito apoiado pelos Estados Unidos em sua cruzada contra o comunismo. Porém, de acordo com os especialistas, já naquela época, Bin Laden também começou a fincar as raízes para uma das mais extensas redes financeiras do mundo, que mais tarde seria capaz de sustentar seu grupo, o al-Qaeda, que em árabe significa "a base". Doações Durante o período, ele conseguiu persuadir clérigos muçulmanos de diversos países para que fossem emitidos editos religiosos legalizando a doação, por parte dos muçulmanos, do zakat - caridade anual aos pobres - aos combatentes árabes que lutavam no Afeganistão. "O dinheiro de milhões de muçulmanos chegava para sustentar sua batalha para expulsar os infiéis das terras muçulmanas", disse Salman, editor-chefe do jornal As-Safir, de Beirute. Ele acredita que muitos desses doadores ainda enviam dinheiro a Bin Laden, apesar de os soviéticos terem saído do Afeganistão em 1989. Devassa Nesta terça-feira, após a pressão dos Estados Unidos sobre a Arábia Saudita, empresários locais disseram que o governo iniciou uma devassa em tais doações - que normalmente alcançam entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões por mês. O Al-Qaeda financia mais do que suas próprias operações. Alex Standish, editor do Jane´s Intelligence Digest, qualifica o grupo como o "banco mercantil do terrorismo", pois às vezes dá apoio a grupos militantes isolados e ataques contra alvos norte-americanos ou em outros países ocidentais. É provável que o dinheiro para o terrorismo circule por meio de transferências entre empresários e remessas levadas por entregadores. Famílias ricas As famílias ricas também financiam indiretamente as operações de Bin Laden, enviando remessas de dinheiro aos filhos que estudam no exterior. É difícil para as autoridades rastrear os bens de Bin Laden e congelá-los porque eles estão vinculados a empresas de fachada que parecem legítimas. Standish diz que estes negócios incluem fábricas de processamento de comida, fazendas de avestruzes e lucros obtidos por meio de empreiteiras e da venda de diamantes. Especialistas dizem ainda que mesquitas, entidades caridosas e outras organizações não-governamentais desviam para a Al-Qaeda parte do dinheiro levantado nos Estados Unidos, na Europa e em outras partes do mundo. "Uma boa parte disso é feita sob falsas alegações", diz Mike Ackerman, um ex-agente de operações da CIA e hoje consultor de segurança internacional em Miami. Com tantas informações sobre Bin Laden, por que as agências de segurança ocidentais permitem a continuidade de seus negócios? Standish e Ackerman dão duas razões. Alguns dos países onde estão baseadas as empresas de Bin Laden - como o Sudão - não dão as condições necessárias para agir contra ele, e as nações ocidentais não levaram muito a sério a ameaça terrorista. "Nós somos felizes, gordos e muito complacentes neste país", comenta Ackerman.

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