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Imprensa do Equador afirma ser perseguida

Presidente Rafael Correa nega promover ações contra jornalistas

Por Guilherme Russo
Atualização:

No mesmo dia em que o Equador concedeu asilo político a Julian Assange, 16 de agosto, o jornalista Orlando Gómez León - editor do jornal equatoriano La Hora e correspondente em Quito da revista colombiana Semana - foi agredido e ameaçado de morte após publicar uma reportagem sobre a liberdade de expressão no país em meio à situação do fundador do WikiLeaks.

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Veja também:link Impasse põe Assange em limbo jurídicolink Grã-Bretanha tem '2 pesos e duas medidas' no caso Assange, diz CorreaO caso de Gómez, segundo entidades de defesa da imprensa no Equador, reflete a "perseguição" que meios de comunicação e seus profissionais têm sofrido desde que o presidente Rafael Correa assumiu, em janeiro de 2007. O chefe de Estado nega que seu governo promova ações contra jornalistas.César Ricaurte, diretor executivo da ONG Fundamedios, afirma que o presidente equatoriano ataca "constantemente" profissionais de imprensa em rede nacional, contribuindo para que qualquer um que se sinta ofendido por reportagens se volte contra jornalistas. "Registramos 530 agressões em quatro anos", disse.Em seu programa semanal, aos sábados, e em outras transmissões, Correa costuma exibir imagens de repórteres, fotógrafos e editores, a quem qualifica de "inimigos da revolução", "traidores da pátria" e "mentirosos". Segundo o levantamento da Fundamedios, ele usou a cadeia nacional de rádio e TV em cerca de 1,5 mil ocasiões desde que assumiu."Essas ofensas estimulam qualquer um que fique incomodado com alguma informação a agredir jornalistas", disse Ricaurte. Ele lembrou da morte de Byron Baldeón, assassinado em 1.º de julho após ter fotografado um carregamento ilegal de TVs e entregado as imagens ao Ministério Público. "Foi a primeira morte de um profissional da imprensa em muitos anos."Ricaurte afirmou que, em razão dessas "afrontas", o fato de o Equador ter concedido asilo a Assange virou piada no país, já que o fundador do WikiLeaks é considerado um ativista pelo direito de livre expressão.Reeleição

Para o especialista em política e economia Walter Spurrier, diretor da publicação online Análise Semanal, ao acatar o pedido do australiano, Correa busca reconquistar sua base mais à esquerda, preparando-se para a disputa presidencial de fevereiro de 2013, quando tentará a reeleição. Spurrier afirmou que esquerdistas têm retirado seu apoio a Correa, que, para atrai-los, "aparece como um combatente anti-imperialista que desafia países ricos". Essa posição, segundo o analista, beneficia o "projeto personalista de Correa, ao dialogar com a maioria do eleitorado equatoriano, que responde ao populismo".De acordo com Spurrier, a economia do Equador pode ser prejudicada, pois os EUA e os países europeus - os maiores parceiros comerciais de Quito - possivelmente relutem em firmar novos acordos em razão do "desafio diplomático" que Correa lhes apresentou com o asilo a Assange.

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