
02 de agosto de 2019 | 12h59
SEUL - O governo do Japão decidiu nesta sexta-feira, 2, aumentar o controle sobre produtos tecnológicas de ponta exportados para a Coreia do Sul. A medida, segundo analistas, deve aumentar as tensões diplomáticas entre os dois países e afetou diversas bolsas de valores pelo mundo.
O episódio é o mais recente na escalada de desconfiança provocada pela decisão da Suprema Corte sul-coreana de autorizar vítimas de trabalho forçado da ocupação japonesa do país na 2.ª Guerra de buscar indenizações junto a empresas nipônicas.
A decisão da Justiça sul-coreana provocou protestos no Japão, que argumenta que as disputas da ocupação foram resolvidas em um acordo de 1965, no qual os japoneses pagaram uma indenização de US$ 500 milhões aos sul-coreanos.
A partir do dia 28, a Coreia do Sul estará fora da lista de países que recebem tratamento preferencial para importar produtos tecnológicos de ponta, essenciais para a indústria sul-coreana.
O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, condenou a medida, que qualificou de sabotagem. “Se o Japão prejudicar intencionalmente nossa economia, também sofrerá os danos”, disse. “Nunca perderemos para o Japão outra vez.”
Ao anunciar o veto às importações sul-coreanas, o governo japonês diz ter preocupações relacionadas à segurança nacional com o uso do militar do material por empresas sul-coreanas, sem detalhar qual seria esse uso. Segundo autoridades japonesas, a decisão foi tomada depois de Seul se recusar a discutir o tema da compra de exportações “sensíveis”.
Entre as possíveis reações de Seul à decisão japonesa está a interrupção do compartilhamento de inteligência militar com o Japão, segundo o assessor de segurança nacional Kim Hyun-chong. “Não faz sentido compartilhar segredos de inteligência com um país que não confia na gente”, disse.
As bolsas de valores caíram num reflexo da medida, com o temor dos investidores que o veto japonês prejudique o fluxo de produtos sul-coreanos para outros países.
Autoridades japonesas, no entanto, relativizaram o impacto da decisão, em uma tentativa de acalmar os mercados. “Não haverá efeito nas redes de fornecimento globais ou nos negócios japoneses”, disse o ministro da Economia do Japão Hiroshige Seko.
Os Estados Unidos, por sua vez, estão preocupados que a disputa amplie a influência da China no Leste Asiático e prejudique as negociações com a Coreia do Norte.
Em Washington, há o temor de que a disputa prejudique a cooperação militar entre Coreia do Sul e Japão, segundo a especialista em Leste Asiático Celeste Arrington, da Universidade George Washington.
O secretário de Estado Mike Pompeo deve se reunir ainda hoje na Tailândia com os chanceleres Taro Ono, do Japão, e Kang Kyung-wha, da Coreia do Sul.
Quando assumiu o cargo em 2015, Moon prometeu desenvolver uma estratégia para separar as mágoas históricas com o Japão da futura cooperação bilateral. assinou com o Japão um acordo para compensar as vítimas de exploração sexual por militares japoneses durante a guerra.
Apesar disso, dois anos depois, em 2017, o presidente criticou o acordo assinado pela sua antecessora, Park Geun-hye, que compensava as vítimas de exploração sexual por militares japoneses durante a guerra. Segundo ele, o pacto foi insuficiente.
A decisão da Suprema Corte de indenizar as vítimas de trabalho forçado, anunciada no fim do ano passado, irritou ainda mais o Japão, que passou a desconfiar dos sul-coreanos e tomar medidas retaliatórias, principalmente relacionadas ao comércio entre os dois países, que culminou com o veto desta sexta-feira. / NYT e W.POST
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