Índia ultrapassa marca de 1 milhão de casos e isola 375 milhões de habitantes

Segundo especialistas, vírus avança em razão da alta densidade demográfica, de um sistema de saúde precário e do erro de cálculo do primeiro-ministro, Narendra Modi, que incentivou a retomada da economia cedo demais

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Por Redação
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NOVA DÉLHI - A Índia ultrapassou nesta sexta-feira, 17, a marca de 1 milhão de casos de coronavírus, se tornando o terceiro país com mais infectados do mundo – atrás de EUA, com cerca de 3,5 milhões, e do Brasil, com pouco mais de 2 milhões. Autoridades locais aumentaram as restrições nos Estados mais afetados e ordenaram o confinamento de 375 milhões de habitantes para conter a pandemia.

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De acordo com especialistas, o vírus ganhou velocidade na Índia alimentado pela alta densidade demográfica, por um sistema de saúde ruim e pelo erro de cálculo do governo do primeiro-ministro, Narendra Modi, que levantou as restrições de movimento e incentivou a retomada das atividades econômicas cedo demais.

Pesquisadores do centro de pesquisas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) estimam que a Índia será o país mais afetado do mundo no ano que vem. “Estamos pagando o preço do relaxamento”, disse K. Srinath Reddy, presidente da Fundação de Saúde Pública da Índia, entidade que reúne médicos e acadêmicos.

Autoridades indianas voltaram a impor medidas de isolamento social para impedir progressão do novo coronavírus. Foto: TAUSEEF MUSTAFA / AFP

Prabhat Jha, epidemiologista da Universidade de Toronto, no Canadá, afirma que os indianos estão diante de “uma bomba-relógio”. “A única maneira de sair dessa pandemia é obter dados confiáveis, e isso não está acontecendo”, disse Jha, em referência aos testes, que ainda são escassos na Índia. Até agora, autoridades registraram pouco mais de 25 mil mortos. Mas, em razão da falta de exames, o número pode ser significativamente maior.

Outro fator que explica a baixa mortalidade na Índia, de acordo com especialistas, é a demografia. Segundo dados oficiais, apenas 5% dos indianos têm mais de 65 anos, enquanto mais da metade tem menos de 25 – os jovens não precisam de internação com a mesma frequência que os mais velhos.

Anand Krishnan, epidemiologista do Instituto de Ciências Médicas, de Nova Délhi, cita a baixa média de idade dos indianos para explicar o número reduzido de mortos. 

“Além de termos uma população mais jovem que outros países, obesidade e diabetes, que aumentam a vulnerabilidade ao vírus, são menos prevalentes na Índia”, disse.

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Entre a população circulam teorias mais engenhosas para explicar a resistência do povo indiano, incluindo a exposição generalizada a uma vacina contra tuberculose que estimularia o sistema imunológico, uma cepa diferente do vírus que circula no país e algum fator genético desconhecido – nada comprovado pela ciência. 

A Índia registra cerca de 35 mil novos casos por dia – no mundo, o índice é menor apenas que os 40 mil, do Brasil, e os 70 mil, dos EUA. Em termos proporcionais, ainda é pouco – considerando a população de 1,3 bilhão. Os números não dão sinais de trégua. A taxa de testes positivos chegou a 8% e vem subindo constantemente. 

O primeiro caso foi registrado em 30 de janeiro e o premiê agiu rápido, recomendando uso de máscaras e decretando, em março, a quarentena dos 1,3 bilhão de habitantes. Apesar de ter atuado cedo, Modi tomou uma decisão controversa.

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Assim que as atividades econômicas foram interrompidas, milhões de indianos ficaram sem trabalho e imigraram de volta para as vilas e cidades de origem, espalhando a pandemia para o interior da Índia. Nesta semana, autoridades estaduais e municipais decretaram novamente o lockdown em várias regiões, como Bihar, Bagalore, Kerala, Goa e Calcutá – o governo estima que 375 milhões tenham voltado a viver sob restrições. 

Os prejuízos são devastadores. Escolas e universidades estão fechadas desde março, sem planos claros de reabrir, deixando quase 278 milhões de estudantes em casa. Mais de 100 milhões de indianos perderam o emprego e o banco central prevê uma contração de até 9,5% do PIB em 2020. / REUTERS, NYT e WP

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