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Indianos contra ''populismo''

Campanha anticorrupção do ativista Anna Hazare é vista com desconfiança por vários movimentos sociais da Índia

Por Jim Yardley
Atualização:

Na terça-feira, os dois celulares de Aruna Roy tocavam antes mesmo do café da manhã. Ela se preparava para mais um dia em meio à tempestade midiática envolvendo o movimento de combate à corrupção do ativista indiano Anna Hazare. Referência da sociedade civil na Índia, Aruna tem aparecido na televisão para falar sobre a campanha populista de Hazare, incluindo a atual greve de fome do ativista. Ela pode parecer uma aliada natural dele. Mas não é.Aruna opõe-se à posição assumida por Hazare, assim como à solução proposta por ele para acabar com a corrupção no governo. E ela não está sozinha. Apesar de simpatizar com a meta do combate à corrupção, boa parte da intelligentsia indiana recebeu o movimento de Hazare com inquietação ou mesmo hostilidade. Um crítico descreveu certos partidários do ativista, vindos da classe média, como uma encarnação indiana do movimento Tea Party.A principal crítica ainda é voltada aos líderes que governam a Índia, responsabilizados por terem administrado mal a crise e por fracassarem no combate à corrupção. Mas o tom estridente adotado por Hazare e seus assessores, sua aparente relutância em considerar outras visões e sua tentativa de passar ao largo dos processos parlamentares atraíram críticas de todas as partes, até daqueles que pareciam aliados naturais.A questão imediata é como desarmar a crise, agora que Hazare chegou ao nono dia de greve de fome em Ramlila Maidan, praça pública de Nova Délhi. Sua campanha de jejum, digna de Gandhi, atraiu grandes multidões em comícios pacíficos e marchas vindas de toda a Índia, num movimento que inquietou o establishment político por causa de suas dimensões e sua força.O primeiro-ministro Mammohan Singh enviou na terça feira uma carta a Hazare, aparentemente abrindo caminho para negociações indiretas. O ativista ridicularizou a proposta de lei de combate à corrupção apresentada pelo governo que aguarda a aprovação do Parlamento. Ela seria propositalmente ineficaz e voltada à proteção dos funcionários, não à investigação deles. Muitos analistas concordam, incluindo os que estão perturbados com a alternativa apresentada por Hazare: uma agência independente dotada de amplos poderes e sua própria estrutura burocrática nacional, criticada pela possibilidade de existir fora dos contrapesos habituais dos sistemas democráticos indianos.Até o momento, as grandes multidões que procuram Hazare têm se comportado bem. Mas alguns pediram ao governo que atue rapidamente para evitar que a situação fuja ao controle. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINOÉ REPÓRTER

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