Indonésia inclui influenciadores digitais em grupo prioritário de vacinação contra covid-19

Medida faz parte de campanha de comunicação do governo sobre vacina, voltada principalmente para jovens; Ministério da Saúde não informou quantos influenciadores seriam vacinados junto ao grupo preferencial

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Por Stanley Widianto e Kate Lamb
Atualização:

A definição dos grupos com prioridade para receber a vacina contra covid-19 na Indonésia incluiu uma classe curiosa. O país asiático decidiu colocar influenciadores digitais entre os primeiros da fila de imunização.

Quarto país mais populoso do mundo, a Indonésia iniciou sua campanha de vacinação na quarta-feira, 13. No lançamento, ao lado do presidente Joko Widodo, que recebeu a primeira dose da vacina aplicada no país, estava Raffi Ahmad, uma personalidade da televisão nacional que possui quase 50 milhões de seguidores no Instagram.

Influenciador Raffi Ahmad receve a vacina em Jacarta Foto: Indonesian Presidential Palace via REUTERS

"Alhamdulillah [louvado seja Deus] uma vacina... Não tenha medo de vacinas", escreveu em uma publicação a celebridade, de 33 anos, com um vídeo dele recebendo a injeção, ao lado de um emoji de coração e outro da bandeira da Indonésia.

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Decidir quem deve ser o primeiro na fila para doses limitadas de vacina tem sido um desafio em todo o mundo, com muitos países priorizando médicos, pacientes em grupos de risco e idosos. A decisão de incluir os influenciadores, segundo o oficial do Ministério da Saúde da Indonésia, Siti Nadia Tarmizi, faz parte de uma estratégia de comunicação do governo.

Embora a Indonésia enfrente o surto de coronavírus mais grave no sudeste da Ásia - com mais de 869 mil casos e 25 mil mortes - há ceticismo em relação à segurança e eficácia de qualquer vacina.

Ao mesmo tempo, os indonésios estão entre os principais usuários globais de plataformas de mídia social como Facebook, Twitter e Instagram.

O Ministério da Saúde não informou quantos influenciadores seriam vacinados no grupo prioritário.

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Ahyani Raksanagara, chefe da agência de saúde de Bandung, disse à Reuters que os artistas "esperançosamente transmitem influência e mensagens positivas" sobre as vacinas, e especialmente para os jovens.

Uma pesquisa no mês passado mostrou que apenas 37% dos indonésios estavam dispostos a ser vacinados, enquanto 40% considerariam isso e 17% recusaram.

Alguns médicos levantaram dúvidas sobre o uso inicial da vacina CoronaVac da empresa chinesa Sinovac Biotech pela Indonésia - com estudos no Brasil, Indonésia e Turquia mostrando eficácias variando de 50% a 91%.

A decisão de incluir influenciadores digitais na lista de prioridades saiu pela culatra quando fotos de Raffi o mostravam em uma festa horas depois que ele recebeu a injeção - que não confere imunidade imediata.

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As imagens dele sem máscara e desrespeitando protocolos de distanciamento social com um grupo de amigos geraram críticas nas redes sociais, com apelos para que ele desse melhor exemplo.

"Isso também mostra que o governo é inconsistente em priorizar quem recebe a vacina primeiro", disse Irma Hidayana, cofundadora da iniciativa de dados sobre a pandemia LaporCOVID-19. "Eles deveriam ter feito isso com outro profissional de saúde, talvez, não um influenciador."

Nádia, oficial do Ministério da Saúde, observou que "quando você é vacinado, ainda tem que cumprir os protocolos de saúde e não ser descuidado em aplicá-los".

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Zubairi Djoerban, da Associação Médica da Indonésia, disse que a estratégia de contratar influenciadores só funcionaria se "os influenciadores fossem informados sobre a vacina e o covid-19 para que possam ser agentes de mudança".

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