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Indonésia prioriza busca de corpos para evitar epidemias após tsunami

Número de mortos por ondas gigantes que atingiram no sábado o país de maior população muçulmana do mundo chega a 429 e há mais de 100 desaparecidos; sobreviventes convivem com alarmes falsos e risco de contaminação das fontes de água

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Por Redação
Atualização:

JACARTA - Drones e cães farejadores são a principal ferramenta para recuperar os cadáveres que ameaçam contaminar fontes de água e expor a epidemias os sobreviventes do tsunami que deixou ao menos 429 mortos em Sumatra e Java, na Indonésiano sábado. Há mais de 100 desaparecidos. Surpreendido pelas ondas gigantes que chegaram sem aviso, o país agora convive com alarmes falsos.

Em setembro de 2018, tsunami invadiu praias do sul da Ilha de Sumatra e do extremo oeste de Java Foto: Azwar Ipank / AFP

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Em Sumur, pequena vila de pescadores arrasada pelo avanço da água, moradores, polícia e socorristas correram em pânico para a parte mais alta do lugarejo ontem. Eles gritavam “a água está vindo, a água está vindo!, enquanto recitavam versos do Corão. 

O tsunami invadiu praias do sul da Ilha de Sumatra e do extremo oeste de Java na noite de sábado. A onda gigante, provocada pela erupção do vulcão Anak Krakatoa ("Filho de Krakatoa")

A boataria atrapalha a busca por cadáveres, prioridade das autoridades. “Nossa maior preocupação agora são os problemas sanitários”, disse Dino Argianto, chefe das operações humanitárias da Oxfam na Indonésia. “Desaparecidos estão sob as ruínas. Corpos em decomposição podem causar doenças e também poluir as águas.” 

O presidente indonésio, Joko Widodo, visitou nesta segunda as zonas devastadas, menos de três meses depois de outro tsunami, provocado por um terremoto, deixar milhares de mortos em Palu e na Ilha Célebes.

O país já enfrenta falta de água potável e medicamentos. “Muitas crianças estão doentes, têm febre, dor de cabeça e não têm água suficiente”, explicou o médico Rizal Alimin. Fortes chuvas e bloqueios de estradas dificultavam o trabalho das equipes de resgate ontem. 

Mais de 1.400 pessoas foram feridas pela onda de 1,8 metro que avançou sobre a costa de Java e Sumatra, 24 minutos após uma grande erupção do vulcão Anak Krakatoa, o “Filho de Krakatoa”, no Estreito de Sunda, que separa as duas ilhas do arquipélago. O vulcão continua em atividade. Fumaça branca e nuvens de cinzas pairam no ar centenas de metros acima da cratera.

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Sutopo Purwo Nugroho, porta-voz da Agência Nacional de Monitoramento de desastres, disse que a população está orientada a permanecer a pelo menos dois quilômetros da costa. Equipes de resgate civis e militares usam equipamento pesado para remover destroços.

Dionisus Agnuza, de 20 anos, visitava a Ilha Carita numa excursão de formandos em psicologia da Universidade da Indonésia. Na noite de sábado, ele descansava na praia sob a lua cheia e observava o Anak Krakatoa expelir lava. Então, a onda chegou. “Não houve sinais. Foi súbito e fulminante”, contou. “Fui varrido pela onda e jogado contra um muro. Quase me afoguei, mas um colega conseguiu me arrancar da águas que refluíam.”

Vários colegas de Agnuza foram hospitalizados com cortes causados por estilhaços de vidro das janelas do hotel. Ele sofreu escoriações e torção nas costas ao bater no muro. 

O músico Riefian Fajarsyah, vocalista do grupo pop indonésio Seventeen, enterrou ontem sua mulher. Três integrantes da banda morreram durante a apresentação na praia. A Indonésia, um arquipélago com 260 milhões de habitantes, é o país de maior população muçulmana do mundo. Suas 17 mil ilhas, entretanto, abrigam núcleos pequenos, mas significativos, de cristãos, hindus e budistas.

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Líderes das igrejas cristãs convocaram suas congregações a rezar. Na Igreja Pentecostal Rhamat, em Carita, o pastor Markus Taekz disse que apenas cem pessoas estiveram no serviço religioso da noite de Natal, metade do número usual.

O presidente indonésio, Joko Widodo, havia prometido reparar ou substituir equipamentos de detecção de tsunamis depois de funcionários se queixarem de que um sistema de boias de alerta – criado após o devastador tsunami de 2004 no Oceano Índico – não vinha funcionando.

Especialistas, no entanto, dizem que teria sido difícil detectar a chegada deste tsunami. Os sensores que emitem alertas foram feitos para monitorar terremotos – responsáveis pela maioria dos tsunamis –, e não atividade vulcânica. Mesmo que o sistema de boias estivesse funcionando bem, sua eficácia seria mínima, dada a proximidade do vulcão da praia e a velocidade com que as ondas do tsunami avançam. / W. POST, AP e AFP

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