Indonésia promete endurecer legislação antiterrorismo

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Por Agencia Estado
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Criticado por ignorar pedidos para reprimir terroristas, o governo da Indonésia prometeu nesta quarta-feira implementar, por decreto presidencial, uma dura legislação antiterrorismo e constituir uma equipe de investigadores internacionais para caçar os responsáveis pela explosão de uma discoteca em Bali. A polícia na ilha turística informou ter prorrogado a detenção de dois indonésios depois de interrogatórios iniciais. Os detidos são um guarda de segurança e um homem cujo documento de identidade do irmão dele foi encontrado no local do atentado. O embaixador americano Ralph Boyce revelou que um mês antes do ataque em Bali, ele e outros enviados dos EUA discutiram com autoridades indonésias possíveis ataques contra alvos americanos. Mas Boyce destacou que a advertência não era específica à Indonésia. Ela coincidiu com o fechamento temporário de embaixadas em Jacarta e outras capitais regionais devido a ameaças terroristas durante o aniversário de 11 de setembro. Mesmo com o governo prometendo ser mais agressivo no combate ao terrorismo, o ministro da Segurança Susilo Bambang Yudhyono garantia que o Jemaah Islamiyah - um grupo extremista islâmico ligado à Al-Qaeda e identificado pela Austrália e outros países como provável executor do atentado - não existe na Indonésia. O líder espiritual do Jemaah Islamaiyah, um homem que continua livre apesar de pedidos internacionais por sua prisão, negou que seu grupo mesmo exista - e garantiu que a Al-Qaeda não tem nada a ver com o atentado. "Não existe ligação entre a Al-Qaeda e a explosão", disse o clérigo muçulmano Abu Bakar Bashir a repórteres. A acusação, segundo ele, é "invenção de infiéis". O ministro do Exterior, Hassan Wirayuda, disse hoje que seu governo estava "trabalhando" na implementação de uma forte legislação antiterrorista - bloqueada a meses no Parlamento - através de um decreto presidencial. Mas a presidente Megawati Sukarnoputri, que tem a reputação de ser indecisa, não tem feito esforços para galvanizar a opinião pública contra o terrorismo e quase não tem sido vista em público desde uma breve visita ao local da explosão no domingo. O ministro do Exterior australiano, Alexander Downer, que estava em Jacarta para se reunir com autoridades, disse que a Indonésia ainda "não tem nenhuma forte evidência sobre quem foi o responsável" pela explosão. A Austrália está oferecendo uma recompensa de o equivalente a US$ 1 milhão por informações que levem aos culpados, que mataram mais de uma dezena de australianos. Quarenta e cinco investigadores dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Suécia e Indonésia vasculhavam os destroços em busca de pistas. O porta-voz da polícia general Saleh Saaf informou que investigadores encontraram resíduos de químicos usados no detonador da bomba. Os traços químicos, incluindo de TNT, foram encontrados respingados numa moto estacionada nas proximidades da explosão. Traços do explosivo militar C-4 - um explosivo plástico usado no ataque, exatamente dois anos antes da explosão em Bali, contra o destróier USS Cole no Iêmen - também foram encontrados no local. O governo indonésio luta para afastar a impressão de que ignorou por meses advertências de que terroristas estavam ativos no país, particularmente o Jemaah Islamiyah, que quer estabelecer um Estado pan-islâmico no Sudeste Asiático. Boyce também disse que um homem que supostamente tentou lançar um coquetel molotov contra o escritório do cônsul dos EUA em Denpasar, no sábado, ficou ferido quando a bomba explodiu prematuramente e então foi detido. Mas um porta-voz da polícia negou que alguém tenha sido detido após a explosão. "Um homem se queimou quando preparava uma bomba na frente do consulado dos EUA", disse o embaixador americano Ralph C. Boyce. Perguntado se ele estava sob custódia policial, respondeu: "Assumo que sim". Enquanto isso, oficiais de inteligência indonésios, que pediram para não ser identificados, disseram que um tenente-coronel reformado da Força Aérea especialista em explosivos foi questionado por investigadores, mas ele não teria confessado ter construído a bomba. O tenente-coronel não está sendo considerado um suspeito. As suspeitas se concentraram fortemente no Jemaah Islamiyah, que tem sido acusado de planejar ataques a bomba contra embaixadas dos EUA e de outros países ocidentais em Cingapura. Malásia e Cingapura já detiveram cerca de 100 supostos membros do grupo, embora nenhum tenha sido acusado de envolvimento no ataque em Bali. Em Bali, sobreviventes e parentes dos mortos ou desaparecidos estão cada vez mais frustrados com a demora na identificação de seus entes queridos. Apenas 39 corpos já foram identificados, com muitos tendo sido carbonizados ao ponto de não poderem ser identificados. A maioria dos corpos terá de ser identificada pela arcada dentária, impressões digitais ou exame de DNA.

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