Informante admite que escreveu carta anônima no caso Clearstream

O escândalo vai até o presidente françês, Jacques Chirac

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Por Agencia Estado
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O ex-vice-presidente da empresa de aeronáutica EADS, Jean-Louis Gergorin, admitiu nesta quinta-feira, em entrevista publicada pelo jornal Le Parisien, que enviou à justiça a primeira carta anônima sobre supostas contas de políticos na sociedade de pagamentos e compensação Clearstream, origem do escândalo que causou uma crise na França. As revelações sobre várias listas falsas de contas na Clearstream, em que figurava o nome do ministro do Interior e pré-candidato à Presidência, Nicolas Sarkozy, mancharam seu maior rival, o primeiro-ministro Dominique de Villepin, e o presidente Jacques Chirac. Ambos negaram ter ordenado investigações sobre Sarkozy, que exige a verdade sobre uma trama que considera uma manobra para impedir a sua candidatura. Gergorin afirma que Sarkozy não estava na primeira lista de 70 supostos titulares de contas na Clearstream enviada ao juiz Renaud Van Ruymbeke em 2004. A primeira lista, obtida em 2003, era um "estranho coquetel" no qual apareciam nomes de funcionários e três políticos: os ex-ministros Jean-Pierre Chevenement, Dominique Strauss-Kahn e Alain Madelin. Também havia "milionários russos e mafiosos". Era um material "explosivo", explica Gergorin, que decidiu alertar as autoridades. Em novembro de 2003, ele procurou o general Philippe Rondot, encarregado da coordenação dos serviços secretos no Ministério da Defesa, e contou "tudo", inclusive o nome da "fonte secreta" que forneceu a lista. Gergorin só revela que a sua fonte "trabalha investigando o financiamento do terrorismo internacional", assumiu "riscos consideráveis" e teme correr risco de vida se for descoberto que "penetrou" nas contas da Clearstream. No início de 2004, Gergorin levou a primeira lista a Villepin, então ministro de Relações Exteriores, que concordou ser necessário aprofundar a investigação. Em 9 de janeiro de 2004, o ex-diretor da EADS se reuniu com Villepin e Rondot, que recebeu então a ordem de "multiplicar os meios". "Ignoro um eventual papel do Palácio do Eliseu", afirma no entanto Gergorin. Ele diz que naquele encontro o nome de Sarkozy surgiu apenas porque ele ia à Índia, "uma viagem surpreendente para um ministro do Interior". Em abril de 2004, sua fonte secreta revelou uma lista "completa" da Clearstream, entregue a Rondot, com 33 mil nomes e na qual aparecem as contas de "Nagy e Bocsa" (referências a Sarkozy), e de pessoas ligadas ao grupo Lagardere. Foi quando Gergorin decidiu procurar o juiz Van Ruymbeke, que investigava supostas comissões ilegais na venda de fragatas militares a Taiwan, em 1991. Mas não quis depor formalmente. "Foi acertado que uma sínteses das minhas informações devia ser comunicada, o que levou à carta anônima de 4 de maio de 2004", explicou. Rondot confirmou, por meio de seu advogado, que não vai atender à convocação dos juízes instrutores do caso Clearstream, que querem uma audiência nesta quinta-feira.

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