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Iniciada em Londres campanha contra plano nuclear britânico

Personalidades questionam a pressa que o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, demonstra para debater o tema da renovação do arsenal nuclear do país

Por Agencia Estado
Atualização:

Cerca de 100 personalidades do mundo da arte, ciência, moda, religião e política lançaram nesta quinta-feira uma campanha contra os planos do governo britânico de modernizar seu sistema Trident de armas nucleares estratégicas. Entre os impulsores da campanha, destacada nesta quinta-feira pelo jornal The Independent, estão o físico Stephen Hawking, a ativista dos direitos humanos Bianca Jagger, o arquiteto Richard Rogers, a escritora Zadie Smith, a estilista Vivienne Westwood, o primaz anglicano, Rowan Williams, e o próprio prefeito de Londres, Ken Livingstone. Todos eles questionam a pressa que o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, demonstra para debater o tema da renovação do arsenal nuclear do país antes de deixar o poder este ano, como prometeu. Em 4 de dezembro, o líder trabalhista afirmou no Parlamento britânico que seria "imprudente e perigoso" que o Reino Unido renunciasse à sua força de dissuasão nuclear. No entanto, Blair negou que o país seja obrigado a se desarmar por ter assinado o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. O primeiro-ministro argumentou que não seria "inimaginável" que, no futuro, certos estados promovessem o "terrorismo nuclear" de seu Território. O plano desenvolvido por Blair e que será votado em março pelo Parlamento passa pela colaboração com os Estados Unidos em um programa para estender a vida útil dos mísseis Trident D5 americanos até a década de 2040 e construir no Reino Unido uma nova geração de submarinos. Segundo o governo, a decisão sobre a fabricação de novas ogivas atômicas para esses mísseis não será tomada até a próxima legislatura. Esses planos, que podem custar ? 97 bilhões aos cofres públicos, distribuídos ao longo de 30 anos, levantam forte oposição entre os promotores da campanha, que pedem um adiamento da votação no Parlamento até que o assunto seja debatido com profundidade. Entre as personalidades, figuram também o ex-secretário-geral adjunto da ONU Richard Jolly e militares como o marechal do ar Timothy Garden e o general Hugh Beach. Elas acusam o governo de enganar os cidadãos sobre o tema da mesma maneira que fez ao denunciar as inexistentes armas de destruição em massa como pretexto para a invasão do Iraque. Ao contrário do chamado "Comitê dos Cem", que se opôs ao sistema nuclear Polaris nos anos 60, os promotores da atual campanha não são todos pacifistas favoráveis ao desarmamento nuclear unilateral, mas exigem um debate. O próprio líder do Partido Liberal-Democrata, de oposição, Menzies Campbell, considera que o país poderia adiar uma decisão sobre o caso até a realização, em 2010, da conferência de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Alguns deles criticam ainda o contra-senso do Governo britânico, que exige do governo do Irã a renúncia a seus planos nucleares, mas pretende modernizar seu próprio arsenal atômico. Em declarações ao Independent, o astrofísico Stephen Hawking afirma que "a guerra nuclear continua sendo o maior perigo para a sobrevivência da raça humana". "Substituir o Trident dificultaria a redução de armamento, além de ser um desperdício de dinheiro, já que em momento algum utilizaríamos o sistema independente", afirma o cientista. O prefeito de Londres, Ken Livingstone, acrescenta: "A Guerra Fria já acabou há muito tempo. O maior desafio do século XXI será prevenir a catástrofe da mudança climática".

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