Inquérito sobre Jean Charles é aberto em Londres

Passageiros que testemunharam morte de brasileiro serão ouvidos

PUBLICIDADE

Por Flavia Guerra
Atualização:

Começou ontem em Londres o inquérito público que vai durar cerca de 12 semanas e tem como principal objetivo esclarecer em que circunstâncias o brasileiro Jean Charles de Menezes foi morto pela polícia britânica, em 22 de julho de 2005. No local do inquérito, uma quadra de críquete - a poucos quarteirões da cena do crime, na entrada da Estação de Stockwell -, Patrícia Armani e outros primos de Jean cumpriam o papel de testemunhar e empunhar a bandeira da campanha Justice4Jean (Justiça para Jean). Três anos após o crime, mesmo depois de a Scotland Yard ter sido declarada culpada por pôr a segurança pública em risco, nenhum responsável pelo caso foi de fato punido. Muito menos Ian Blair, chefe da polícia e principal alvo das acusações. Desta vez, há sinais de avanço. Além de reconstituir os passos de Jean, o inquérito público ouvirá pela primeira vez os passageiros que estavam no mesmo trem em que Jean Charles viajava no dia. Na quinta-feira, enquanto filmava as últimas cenas do filme Leave to Remain, Patrícia conversava com o Estado sobre seu primo e dizia: "Ainda há muita coisa para contar. Ninguém sabe exatamente o que aconteceu naquele dia. Por isso, esse inquérito, além de contar com o depoimento das pessoas que estavam no vagão quando Jean foi assassinado, vai refazer todo o percurso que ele fez naquele dia, desde a casa dele ate o metrô." Dirigido pelo brasileiro Henrique Goldman e estrelado por Selton Mello, o filme é uma co-produção Brasil-Grã-Bretanha e conta a história de Jean Charles de Menezes. Assim como as filmagens atraíram curiosos e apoiadores da causa Justice4Jean, muitos cidadãos comuns se reuniam na frente da quadra de críquete do bairro de Oval para ver Alessandro Pereira, Alex Pereira e Patrícia passarem. Três anos após o ocorrido, o apelo simbólico que o crime tem na opinião pública inglesa é tanto que a quadra foi escolhida "por causa do grau de interesse pelo caso". O inquérito foi destaque dos principais jornais distribuídos nas estações de metrô de Londres. Pode parecer pouco, mas esses são os jornais mais populares, ao lado de The Sun, do país. E todos faziam questão de ressaltar o que pode significar o definitivo esclarecimento do crime. "O pior cenário para a polícia londrina seria o veredicto de crime consentido, o que colocaria Ian Blair sob forte pressão para que se demita." Desfecho com cara de ficção de cinema para um caso que traz à tona falhas e irresponsabilidade por parte da prestigiada Scotland Yard. O roteiro segue em aberto e, para completar o cenário, no próximo mês, a mãe de Jean, Maria Otone, e o irmão Giovanni viajarão de Gonzaga, em Minas Gerais, onde moram, para participar do processo. Hoje, o inquérito continua, com a reconstituição, passo a passo, dos caminhos percorridos por Jean no dia de sua morte.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.