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Instituições atuais tornaram-se inadequadas

Por Klaus Schwab*, para Newsweek

Por Agencia Estado
Atualização:

Examinando os desafios do novo século, é difícil escaparmos de uma conclusão desalentadora. As instituições globais que construímos com tanto sacrifício no último meio século - a Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (Bird) e a Organização Mundial de Comércio (OMC) - são inadequadas para lidar com os numerosos problemas que enfrentamos. Essa "deficiência sistêmica" ameaça-nos a todos e induz os Estados Unidos e outras nações poderosas a agirem unilateralmente quando seus interesses são ameaçados. Isso, por sua vez, pode degenerar, facilmente, em protecionismo nacional e regional. Essas circunstâncias também provocam uma reação poderosa (e cada vez mais violenta) contra a globalização, por parte dos que se sentem frustrados ou esmagados pela complexidade e pelo ritmo da mudança. Sinto-me profundamente cético, a esta altura, quanto à possibilidade de as instituições responsáveis pela promoção da paz mundial, da estabilidade financeira, do desenvolvimento socioeconômico e do livre fluxo de bens e serviços poderem voltar algum dia a resolver esses desafios por si sós. Uma das razões é o fato de o poder dos Estados (e das instituições globais que eles criaram há muito tempo), ter diminuido significativamente na última década. O poder passou para novos atores, de companhias multinacionais para as organizações não-governamentais e grupos de ativistas. Também surgiram novos desafios. A desaceleração da economia dos Estados Unidos, a debilidade estrutural do Japão, a luta da economia de mercado na Rússia, divergências de opiniões sobre o futuro da Europa, mudança do clima global e a tarefa formidável de transpor as divisões sociais, econômicas e tecnológicas existentes entre ricos e pobres - são questões difíceis que requerem soluções dramaticamente diferentes. Para tratar desses problemas, precisamos de fóruns que reúnam, como participantes, Estados e organismos que não sejam Estados, em intercâmbios que deverão ir muito além do diálogo mantido pela maioria das entidades internacionais existentes. A administração verdadeiramente participativa, envolvendo governos, empresas e a sociedade civil - os acionistas da agenda global - é essencial para a criação de um futuro pacífico e próspero. A primeira medida prática consistiria em transferir a atenção global do G-8 para o Grupo dos 20, criado em Colônia, há dois anos, com a inclusão de nações como Brasil, China, Índia, México, África do Sul, Turquia e outras do mundo em desenvolvimento. O G-20 é uma plataforma mais adequada para a discussão de comércio e investimentos nos mercados emergentes, assim como muitas outras questões complexas que atualmente estão sendo agrupadas indiscriminadamente sob o termo "globalização". Como afirmou, há algum tempo, o presidente do grupo e ministro das Finanças do Canadá, Paul Martin, o G-20 "reúne amostras representativas de economias nacionais em diferentes estágios de maturidade econômica, fornecendo a diversidade necessária para que se possa tratar de uma ampla série de necessidades humanas". A crescente interdependência significa que devemos aceitar a realidade de uma sociedade realmente global, que deve ser abrangente e buscar forças em nossas diferenças políticas, nossa diversidade cultural e inspirar a reflexão e a colaboração entre líderes de todos os setores da sociedade global, e não só dos governos. *Klaus Schwab é fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial.

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