28 de março de 2011 | 00h00
BENGHAZI - A emissora rebelde Al-Hurra ("A Livre") passou a ocupar um canal nas redes de TV a cabo captadas na Líbia, rompendo o monopólio do regime de Muamar Kadafi na televisão. Criada no início do levante, dia 19 de fevereiro, Al-Hurra era transmitida antes apenas por frequências piratas. Seus vídeos eram também publicados na internet e entregues às redes de TV árabes, como Al-Jazira. A televisão se junta à emissora de rádio Líbia Livre, no ar desde os primeiros dias do levante iniciado há um mês, e a quatro jornais impressos também produzidos pelos rebeldes.
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Por ora, a emissora rebelde transmite apenas cerca de uma hora de noticiário ao vivo. No restante do tempo, mostra filmagens gravadas das permanentes manifestações na Praça dos Mártires contra o regime e em agradecimento pela intervenção da coalizão.
Na noite do dia 19, sábado, exatamente um mês depois de colocar no ar o canal pirata, seu criador, Mohamed Nabous, foi morto por um franco-atirador com um tiro de fuzil no olho. Durante o dia, ele havia filmado as mortes e os estragos em residências causados pelos bombardeios das forças de Kadafi.
Nabous, de 28 anos, que antes do levante trabalhava numa empresa provedora de internet, foi quem montou a conexão usada pelos líderes rebeldes e jornalistas, com um equipamento de satélite doado por um empresário. Sua mulher, Perdita, leva adiante o projeto da TV.
Seif al-Islam, filho de Kadafi, que se preparava para sucedê-lo, chegou a criar em 2006 um canal de TV e uma emissora de rádio, chamadas Al-Libya, supostamente "independentes", como parte de um processo de reformas por ele anunciado, na época. A TV entrevistava defensores de reformas moderadas. Aparentemente seu pai não gostou e, após dois anos, tomou a emissora e a transformou no Canal 2, que tem o mesmo perfil do 1. A rádio passou a transmitir só música.
Mustafa Gheriani, de 54 anos, porta-voz do Conselho Provisório Líbio, a liderança rebelde, lembra que havia "muitos" jornais em Benghazi na sua infância, antes de Kadafi tomar o poder, em 1969. "Eles esgotavam nas bancas antes das 8 horas", recorda Gheriani, engenheiro líbio que mora nos Estados Unidos. "Eram jornais de qualidade." O porta-voz garante que, na época do rei Idriss Sanussi, derrubado pelo golpe, "havia liberdade de expressão". Ele se lembra de seu pai movendo a antena para pegar o sinal da emissora de TV transmitida pela base americana na Itália, a única captada na Líbia na época.
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