
26 de agosto de 2013 | 02h04
Ao menos três ministros do gabinete de Evo se pronunciaram sobre o caso, todos em coro pela normalidade das relações bilaterais. "Como é normal, o governo está pedindo informações antes de tomar decisões ou chegar a conclusões precipitadas", disse a ministra das Comunicações, Amanda Dávila, segundo a estatal Agência Boliviana de Informação. "O caso não afetou as relações entre Bolívia e Brasil."
Ainda de acordo com a ministra, há interesses políticos de setores "ultraconservadores" da política boliviana e brasileira por trás do caso. "Foi um caso produzido com informações falsas à embaixada brasileira em La Paz", disse.
O chefe da pasta da Previdência Social, Juan Ramón Quintana, deu opinião similar. "O que é Roger Pinto diante de um comércio bilateral de US$ 3 bilhões? É apenas um suspiro", argumentou. "Não temos de dar a isso uma importância maior do que o caso merece." Já o presidente Evo Morales, que cumpriu agenda pública ontem na Bolívia, preferiu não se pronunciar sobre o caso.
Na avaliação do cientista político Roberto Laserna, do Centro de Estudos da Realidade Econômica e Social (Ceres), Evo foi realista. "Não faz sentido brigar com um sócio importante como o Brasil. No fim das contas, perceberam que o fato de não terem dado o salvo-conduto para o senador deixar a embaixada apenas aumentou o problema. Agora, com ele no Brasil, a questão já é um fato consumado", disse o analista ao Estado. "Além disso, a oposição queria tratar a fuga como uma grande vitória. Com o governo minimizando o episódio, neutraliza esses ganhos."
A colaboração do corpo diplomático brasileiro na Bolívia revela também, na opinião do analista, um descontentamento com as reformas judiciais promovidas por Evo na Bolívia. Na visão de críticos do presidente, essas mudanças servem apenas para que ele persiga opositores. "A mensagem que fica é que um parceiro importante não está contente com tudo o que ocorre aqui", afirmou o analista boliviano.
RELEVÂNCIA
Ainda segundo Laserna, o episódio deve ter um desdobramento inesperado para Evo. O senador ganha uma relevância política que não tinha até pedir asilo à embaixada brasileira em La Paz. "Pinto é de Pando, um departamento (Estado) sem tradição política e econômica. Ele é muito mais importante agora para a oposição boliviana do que era há meses atrás", diz.
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