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Internação afasta Trump de campanha e pandemia volta ao centro de disputa 

Se presidente tiver ciclo normal de recuperação, de 14 dias após a infecção, pode ficar quase metade do tempo restante até a votação afastado, o que afetaria a disputa; ele recebeu uma dose de um coquetel de anticorpos experimental

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Por Redação
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WASHINGTON - Menos de 24 horas após o diagnóstico de covid-19, Donald Trump teve febre e foi levado ontem para o hospital militar Walter Reed, em Washington. Segundo a porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, a decisão foi dos médicos do presidente, que deve trabalhar de lá nos próximos dias. A um mês da eleição, Trump vinha tentando mudar a narrativa da campanha, tirando a pandemia do centro do debate – o que ficou mais difícil com a internação. 

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O presidente recebeu uma dose de um coquetel de anticorpos experimental que é desenvolvido pela farmacêutica Regeneron, além de vários outros medicamentos, entre eles zinco, vitamina D e a versão genérica do Pepcid, um remédio que combate úlceras, segundo a Casa Branca. O vice-presidente, Mike Pence, teve teste negativo para a doença ontem e continuará em campanha.

Poucas horas após o diagnóstico, Bill Stepien, chefe da campanha de Trump, disse que todos os compromissos do presidente estavam suspensos. A contaminação do presidente, a 32 dias da eleição, muda a dinâmica da disputa – embora seja impossível dizer o rumo que ela tomará. “A disputa, como nós conhecemos, acabou”, disse Andrew Feldman, consultor democrata. “Este é o pior pesadelo para a campanha de Trump.” 

Trump acena para imprensa ao deixar a Casa Branca para ser levado ao centro médico militar Walter Reed Foto: Saul Loeb/AFP

Se Trump tiver um ciclo normal de recuperação da doença, de 14 dias após a infecção, pode ficar quase metade do tempo restante até as eleições afastado. Uma perda para o republicano, já que os comícios são seus maiores ativos políticos. 

O impacto eleitoral é imprevisível. Alguns analistas dizem que Biden, diante do novo cenário, pode moderar suas críticas para não ser visto como um aproveitador. Outros citaram o caso do presidente Jair Bolsonaro, que se recuperou rápido da doença – nesse caso, Trump poderia repetir o que já vinha dizendo, que o vírus não é tão grave. “Ele terá a chance de dizer: ‘Passei por isso e sobrevivi’”, disse Scott Hagerstrom, que trabalhou na campanha de Trump em 2016.

Recuperação

E, finalmente, há a comparação com o premiê britânico, Boris Johnson, que passou dias na UTI de um hospital de Londres. No caso de Johnson, a covid até aumentou sua popularidade.

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No entanto, a maioria concorda que perder duas semanas na reta final de campanha prejudica, mais do que ajuda. Significa suspensão de comícios e de eventos de arrecadação de fundos. Para um candidato que está atrás nas pesquisas, o tempo perdido é precioso.

 A infecção também coloca em xeque a realização dos próximos dois debates com o democrata Joe Biden. Segundo alguns analistas, o próximo encontro, dia 15, é o mais ameaçado até o momento. 

Para a campanha de Trump, a pior parte é o controle da narrativa. Os republicanos vinham tentando focar na economia, nas vacinas e no risco de eleger Biden, retratado como um esquerdista radical – embora seja moderado. 

Todo o esforço do presidente para evitar que a disputa virasse um referendo sobre a resposta de seu governo à pandemia parece ter ido por água abaixo. “Quanto mais o assunto for o coronavírus, pior para o presidente”, disse Dennis Darnoi, estrategista republicano.

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A idade avançada de Trump e a resposta de seu sistema imunológico influenciarão sua batalha contra a covid-19, de acordo com especialistas consultados pelo Washington Post. As comorbidades, segundo os médicos, podem ter um papel decisivo. O presidente de 74 anos pesa 110 quilos, tem colesterol alto e pressão elevada, o que o coloca no grupo de risco da doença. 

O sistema imunológico humano, que combate o vírus, torna-se menos eficaz à medida que envelhecemos. Durante os oito meses da pandemia, quase 80% das mortes ocorreram entre pessoas com 65 anos ou mais. Homens mais velhos também morrem com mais frequência do que mulheres idosas, apontam estudos.

“Alguém na faixa etária de Trump enfrenta cinco vezes mais risco de internação do que um jovem de 18 a 29 anos e um risco dramaticamente maior de morte”, disse Graham Snyder, diretor médico de prevenção de infecções e epidemiologia do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh. 

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Tom Frieden, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CD) durante o governo de Barack Obama, disse ontem no Twitter que um homem de 74 anos “tem aproximadamente 3% de chance de morrer e de 10% a 15% de desenvolver a forma mais grave da doença”. 

Os primeiros cinco a sete dias após a infecção de Trump – uma data que pode ser impossível de determinar – serão críticos. É quando ele tem maior probabilidade de desenvolver pneumonias, coágulos sanguíneos e infecções bacterianas que tornaram a covid-19 tão letal. “Normalmente, durante a primeira semana, você tem uma noção de como isso será grave”, disse Snyder. No entanto, outra parte da imprevisibilidade da doença é o dano que ela causa a um pequeno número de pessoas a partir da segunda semana de infecção. 

É possível que a gravidade seja afetada pela forma como o vírus foi contraído. “A transmissão aérea, envolvendo partículas minúsculas que flutuam por uma distância no ar, pode levar a infecções profundas nos pulmões e um desfecho mais grave”, disse Jeffrey Shaman, epidemiologista da Universidade de Columbia.

Usar uma máscara pode ajudar, de acordo com pesquisas. Trump, porém, era contrário à orientação de uso do equipamento. / NYT, WP e REUTERS

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