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Internet vira arma na caça ao voto

Obama é quem melhor entendeu o potencial da web, investindo em ferramentas como Facebook, YouTube e MySpace

Por Mariana Della Barba
Atualização:

Nas eleições americanas de 2004, o democrata Howard Dean ficou conhecido como o ''''candidato da web''''. Usando a internet, ele ganhou apoio de blogs, recrutou internautas para pedir votos, participou de fóruns, entrou em contato direto com os eleitores e, acima de tudo, arrecadou US$ 15 milhões via internet - um recorde na história entre os democratas. Mas seu sucesso no mundo virtual resultou em fracasso na vida real e ele acabou derrotado. Acompanhe as campanhas online Se, na época, a internet não ajudou nem mesmo o candidato mais conectado de todos, por que nessas eleições ela está sendo tão importante? O próprio coordenador da campanha de Dean responde: ''''Demoramos seis meses para compilar 139 mil e-mails. Uma comunidade no Facebook (site de relacionamento) leva 20 dias para conseguir 200 mil e-mails. Isso é algo astronômico'''', disse ao Estado, por telefone, Joe Trippi. Semelhante ao Orkut, o Facebook é uma das chaves para entender os motivos pelos quais democratas e republicanos estão investindo milhões em seus palanques virtuais. Da campanha anterior para esta, 40 milhões de novos americanos passaram a usar a internet. Hoje, mais de 70% da população tem acesso à web - no Brasil, o percentual é de 22%. No entanto, o que está fazendo da internet uma peça central na corrida à Casa Branca não é só esse novo e, como disse Trippi, ''''astronômico'''' alcance que ela tem hoje nos EUA. Mais importante é a maneira como eles estão navegando. Antes, a internet era usada basicamente para e-mails e consultas. Hoje, são cada vez mais populares as ferramentas em que os usuários podem interagir uns com os outros e criar seu próprio conteúdo. Seja no Facebook, no YouTube ou em blogs, é possível debater ou fazer vídeos sobre qualquer assunto: do último escândalo de Britney Spears às propostas dos políticos. Nessa quase anarquia, o que conta não é o dinheiro, mas a criatividade de mostrar algo diferente. E, segundo analistas, é Barack Obama quem melhor entendeu esse potencial. Obama tem 320 mil usuários em seu perfil no Facebook (que tem 62 milhões de usuários) e seus vídeos já foram assistidos mais de 14 milhões de vezes no YouTube. O democrata tem ainda um blog, participa do MySpace (um Orkut com ferramentas multimídia), do Flickr (site de fotos) e do Twitter, outra febre entre internautas: miniblog em que você informa seus amigos sobre o que está fazendo no momento. Além disso, dos US$ 32 milhões que arrecadou, US$ 28 milhões foram obtidos online. E é o eleitorado com menos de 30 anos o maior responsável por essa movimentação política online. ''''Muitas iniciativas de Obama, como seu Facebook, foram criada por jovens, que se sentem valorizados por estarem contribuindo'''', diz Peter Levine, diretor do Centro para Informação e Pesquisa sobre Participação Cívica da Universidade de Maryland, que estuda o potencial de eleitores novatos. Por ser o mais novo entre os candidatos, Obama, que tem 46 anos, também parece entender melhor o eleitorado jovem. ''''Candidatos que continuam usando programas na TV e o telefone estão tendo dificuldade em conquistar os jovens. Já Obama leva a internet a sério e os jovens o tratam como ''''um de nós'''' e não como alguém da geração de seus pais'''', disse Andrew Rasiej, fundador do site TechPresident, que analisa como a internet está sendo usada na campanha eleitoral. Mas como garantir que campanhas online vão realmente fazer a diferença e não repetir o fiasco de Dean? ''''Descobrir como converter entusiasmo online em votos é o Santo Graal da política online'''', diz Rasiej. ''''O que se pode ter certeza até o momento é que os candidatos estão usando a internet para tudo: fazer campanhas, construir comunidades, arrecadar dinheiro, conquistar partidários, atrair a atenção das massas, o que os torna conhecido por milhões. E isso certamente se converterá em votos'''', conclui. ''''Como a escala na qual esses novos aplicativos estão sendo usados é enorme, eu ficaria surpreso se a internet não tivesse impacto na votação'''', diz Levine, que cita duas pesquisas para corroborar a tese de que a internet está influenciando na eleição. A primeira mostra que as chances de um americano ir votar (o que não é obrigatório) é maior se ele debateu sobre a eleição. A segunda revela que a presença de jovens nas prévias eleitorais está batendo recordes este ano. ''''Hoje, o principal palco de debates no país é a internet. E são justamente os jovens seus maiores usuários.'''' Como já acontece com o comércio, o jornalismo e a música, a penetração da internet na política é irreversível. São milhares de novos usuários a cada dia, munidos de ferramentas de interação e discussão - o que cria mais debate e, conseqüentemente, mais votos. E é essa equação que torna a internet uma ferramenta cada vez mais essencial na campanha política de qualquer candidato.

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