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Intervenção armada na Venezuela é péssima ideia

Nenhum governo latino-americano apoiará uma ação militar contra o governo de Nicolás Maduro, pelo risco de derramamento de sangue

Atualização:

O que fazer quando um regime se mantém no poder pela ditadura e lança sua população na miséria? É com esta questão que a oposição na Venezuela vem se debatendo desde que venceu as eleições legislativas em 2015, mas viu o governo de Nicolás Maduro usar seus tribunais fantoches para remover os poderes de um Parlamento legítimo.

Nicolás Maduro antecipou as eleições presidenciais na Venezuela e se diz às ordens para ser candidato Foto: REUTERS/Marco Bello

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A oposição tentou duas estratégias. Uma foi o protesto prolongado, ao qual o governo respondeu com violência: 120 pessoas morreram, muitas nas mãos das forças de segurança. E, apesar dos protestos, Maduro criou uma Assembleia Constituinte, escolhida a dedo, para substituir o Parlamento.

A segunda estratégia foi tentar negociar com o regime a realização de uma eleição presidencial livre e imparcial no fim deste ano. Em tese, as duas opções não são incompatíveis, mas, na prática, elas dividiram a oposição (que pagou um preço muito alto por não conseguir formar um partido único, com um único líder). 

Em conversações com a oposição este mês, o governo foi intransigente. Vetou os dois mais populares líderes de disputarem a eleição para presidente. E não concordou com um monitoramento da votação por parte de uma entidade internacional. Em desespero, os opositores podem fechar um acordo por muito menos.

Na Venezuela, as condições de vida continuam a se deteriorar. Além da escassez de alimentos, de remédios e do crime desenfreado, o país agora registra uma hiperinflação. A situação desesperadora leva a algumas opiniões desesperadas também. Alertando para a fome iminente, Ricardo Hausmann, economista venezuelano da Universidade Harvard, apelou este mês ao Parlamento para nomear um novo presidente que convocaria uma ação militar internacional para destituir o regime.

É uma péssima ideia e é improvável que isso ocorra. Nenhum governo latino-americano a apoiará. Tampouco Donald Trump, embora tenha pensado a respeito. E há o risco de um derramamento de sangue em grande escala. A Venezuela tem um Exército bem equipado.

O mais provável é uma ação de guerrilha pelos venezuelanos. O que, de certo modo, já começou. Em 15 de janeiro, as forças de segurança encurralaram Óscar Pérez, policial que liderou um ataque contra um depósito de armas da Guarda Nacional. Ele se rendeu, mas foi morto com seis companheiros. 

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A brutalidade de Maduro revela insegurança. Seu regime pode ter pulverizado a oposição, mas está sob pressão. No país, ocorreram novos saques e protestos em razão da escassez. Uma queda na produção de petróleo tem neutralizado os recentes aumentos de preço do produto. As sanções financeiras impostas por Trump tornaram mais difícil para Maduro levantar fundos no exterior. 

Num aspecto, Hausman apresenta um argumento válido. A América Latina não pode ficar de braços cruzados diante de uma calamidade provocada e sem precedentes na Venezuela. A região deve exercer mais pressão financeira e diplomática contra o regime. Não é uma garantia de sucesso, mas as alternativas são piores. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO  © 2017 THE ECONOMIST  NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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