Ontem, o diplomata apresentou seu relatório ao Conselho de Direitos Humanos da ONU (CDH), no qual diz que o governo sírio está promovendo uma punição coletiva contra a população. Em entrevista ao Estado, Pinheiro insistiu no risco que seria repetir na Síria a mesma estratégia da Líbia e destacou que as apostas devem ser concentradas no trabalho do mediador Kofi Annan. A seguir, trechos da entrevista:
Na sua avaliação, qual deve ser a solução para o conflito sírio, um ano depois do início da repressão?
Não há nenhuma chance de uma solução militar ser a resposta. A solução para o conflito é um acordo negociado, com a participação do governo, dos grupos armados e a oposição. Não há outra saída. Uma militarização do conflito será algo extremamente desastroso. É claro que a Síria está em uma situação geopolítica delicada. É um erro profundo tentar transpor a situação da Líbia para a Síria. A Líbia era um país periférico e com população concentrada nas cidades. Além disso, sem o peso que a Síria tem para o mundo árabe. Meu recado central é um só: a violência precisa parar. Incentivar a militarização e armar rebeldes não funcionará. O ciclo da violência precisa ser rompido para evitar uma guerra civil.
Qual é sua avaliação da visita de Annan a Damasco?
Ainda é muito cedo para dizer. Foram só duas conversas. Acho que seria inaceitável julgar a missão dele neste momento. Temos de ser pacientes nas negociações. É cedo para dizer que seu trabalho na Síria acabou. A realidade é que não há alternativa ao diálogo.
Entendemos a situação das vítimas. Mas pensamos que a outra opção teria consequências catastróficas. Não falaríamos em centenas de mortos, mas em milhares. Não vamos brincar com isso. Será muito difícil a saída negociada. Mas não será a primeira crise solucionada com uma mediação.
Qual sua avaliação sobre o estado atual do conflito?
Falamos em uma punição coletiva da população pelo governo. O que sabemos é que a intensificação do confronto armado aumentou o sofrimento. A situação humanitária é cada vez pior. Em Baba Amr, vemos que os ataques deixaram um rastro de morte, miséria e destruição. Os que saíram ainda nos falam sobre execuções sumárias. O governo deu algum acesso a agências humanitárias. Mas perdemos muito tempo e muita gente poderia ter sido salva. O acesso precisa ser garantido.
O que ocorrerá com a lista que o senhor fez de responsáveis sírios envolvidos nos massacres?
Quando houver uma decisão e um órgão competente, a lista que fizemos das pessoas envolvidas será entregue. Só existem duas cópias dessa lista, que estão com a ONU. Foram colocadas numa pasta, com dois códigos diferentes e só podem ser abertas se ambos estiverem corretos.