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Inundações na Alemanha reabrem jogo eleitoral

Por Agencia Estado
Atualização:

Na Alemanha, onde as ondas dos rios, particularmente do Elba, começam a decrescer, o balanço dos estragos é terrível: embora os raros quadros de Vermeer e as sublimes pinturas de Rubens tenham sido salvas das ondas que inundaram o Museu Zwinger, um dos mais belos do mundo, em Dresden, por outro lado, os mortos estão sendo contados às dezenas. E os danos causados pelas inundações são avaliados em pelo menos ? 15 bilhões. Trata-se de uma quantia gigantesca, sobretudo para um país que - como a maior parte dos países da Europa - está sendo atacado por uma grande astenia, com desemprego e também com um déficit do PIB de 1,7% (ou seja, bem próximo do limite de 3% fixado pelo Pacto de Estabilidade que liga todos os países da zona do euro). Portanto, uma catástrofe. Sobretudo quando faltam trinta dias para as eleições legislativas que poderão confirmar o chanceler Gerhard Schroeder (social-democrata), ou abrir as portas do poder a seu rival, Edmund Stoiber (CDU, ou seja, a direita). Mesmo antes do desastre das inundações, a posição do chanceler Schroeder havia piorado bastante e ele estava na condição de "perdedor". Todas as pesquisas de opinião convergiam: a CDU estava de vento em popa, enquanto a social-democracia afundava. Gerhard Schroeder entrava em seu crepúsculo. Ora, as ondas desenfreadas do rio Elba transtornaram a paisagem - não apenas a paisagem geográfica da Alemanha, mas também sua paisagem política. Desde as chuvas torrenciais, não há mais ninguém senão ele, Schroeder. Enquanto seu rival, Edmound Stoiber, compareceu apenas duas vezes brevemente nos locais devastados pelas inundações, Schroeder era onipresente. Rápido, enérgico, emocionado, epetacular, ele monopolizou a situação. E eclipsou, apagou seu concorrente, Stoiber. Ao visitar os flagelados pelo desastre, ele soube encontrar as palavras exatas, as palavras de emoção e de compaixão. E não se contentou com uma extraordinária operação de "relações públicas". Ao mesmo tempo, Schroeder esteve presente nas grandes ações públicas. Adotou decisões fortes: por exemplo, a de destinar para a juda aos flagelados os ? 5 bilhões previstos pelos fundos estruturais europeus de 2002-2003. Apresentou também o programa previsto de redução dos impostos. Estas duas decisões enérgicas deveriam elevar a ? 12 bilhões o montante de recursos financeiros de que Berlim irá dispor para cuidar de estragos causados aos cidadãos do país pelos rios alemães. Ele empreendeu também uma ação diplomática vigorosa, no seio da União Européia: Schroeder convocou, no domingo passado em Berlim, uma conferência entre os quatro líderes europeus cujos países foram atingidos pelas catástrofes (Alemanha, Áustria, República Checa e Eslováquia) e o presidente da Comissão Européia, Romano Prodi. Esta reunião não foi em vão: a União Européia vai criar um fundo de ajuda para o caso de catástrofe natural em um ou em vários países da Comunidade. Percebeu-se então quais foram os trunfos que beneficiaram Schroeder neste episódio inesperado das inundações: como ainda está no comando da Alemanha e, conseqüentemente, no centro da diplomacia européia, o chanceler Schroeder conta com dispositivos e mecanismos para agir que não estão à disposição de seu rival Stoiber, da CDU. Mas, a isto se acrescenta ainda um poder - uma rapidez de execução, que Schroeder controla muito melhor do que Stoiber. O resultado foi que, em menos de quinze dias, o perfil das próximas eleições legislativas alemãs ficou totalmente modificado. Schroeder, em queda livre antes das primeiras gotas de chuva, foi regenerado pela tempestade. Ontem, ele estava se afundando nas pesquisas. Hoje, ele nada sobre as ondas... Naturalmente, os "jogos" ainda não foram realizados: hoje, estamos ainda na fase da emoção, do pânico. Nas quatro próximas semanas que nos separam das eleições, os ânimos voltarão a ficar controlados. Talvez os socialistas afundem novamente. Mas, pelo menos, o jogo, que parecia fechado há quinze dias, está agora, estranhamente, reaberto.

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