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Investigação da ONU indica que Coreia do Norte roubou US$ 281 milhões em ataques cibernéticos

Grupo que monitora sanções do Conselho de Segurança acusa o país de usar fundos roubados para apoiar seus programas de mísseis nucleares e balísticos e contornar as punições

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Por Redação
Atualização:

NOVA YORK — Uma investigação preliminar das Nações Unidas sobre o roubo de US$ 281 milhões (mais de R$1,5 bilhão) em ativos de uma bolsa de criptomoedas em setembro "sugere fortemente" ligações com a Coreia do Norte.

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Analistas do setor apontam para a KuCoin, casa de câmbio especializada na compra e venda desse tipo de divisa, com sede nas Ilhas Seychelles, como a vítima de um dos maiores roubos de moeda digital relatados.

Um relatório confidencial do grupo que monitora o cumprimento das sanções impostas à Coreia do Norte pelo Conselho de Segurança da ONU afirma que as transações relacionadas ao ataque hacker também pareciam estar ligadas a um segundo ataque em outubro passado, quando US$ 23 milhões (cerca de R$123 milhões) foram roubados.

Kim Jong-un em complexo tecnológico de Pyongyang: corrida para transformar país em potência cibernética Foto: Kim Jong-un em complexo tecnológico de Pyongyang: corrida para transformar país em potência cibernética North Korea's Korean Central News Agency (KCNA) REUTERS/KCNA

"Uma análise preliminar, baseada nos vetores de ataque e esforços subsequentes para lavar os lucros ilícitos, sugere fortemente ligações com a RPDC", escreveram os monitores, usando o nome formal da Coreia do Norte, República Popular Democrática da Coreia. Eles acusam Pyongyang de usar fundos roubados para apoiar seus programas de mísseis nucleares e balísticos e assim contornar as sanções.

Embora o relatório não forneça o nome da vítima do ataque, a casa de câmbio digital KuCoin relatou o roubo de US $ 281 milhões em bitcoins e vários outros tokens em 25 de setembro.

“Este deve ser o ataque da KuCoin. Não houve outros significativos durante esse período”, disse Frank van Weert, analista do Whale Alert, um grupo com sede em Amsterdã que rastreia grandes movimentos de criptomoedas pela internet.

Especialistas do setor disseram que os hackers responsáveis pelos roubos estavam tentando canalizar o dinheiro por meio de transações descentralizadas, organizando trocas dos valores entre indivíduos. A intenção era tentar contornar as regras das plataformas de negociação, que rapidamente sinalizaram o dinheiro roubado como ilícito.

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"De acordo com fontes familiarizadas com os dois hackeamentos, os invasores exploraram protocolos 'defi' - ou seja, contratos inteligentes que facilitam as transações automatizadas", disse o relatório da ONU.

A KuCoin disse anteriormente que conseguiu recuperar mais de 80% da moeda digital roubada em setembro, graças em parte ao trabalho de outras bolsas que congelaram os fundos enquanto eles transitavam por seus respectivos sistemas.

O CEO da empresatambém disse que a KuCoin descobriu quem eram os hackers, mas que, a pedido da polícia, só tornaria sua identidade pública "depois que o caso fosse encerrado". Em uma atualização postada no Twitter na semana passada, Lyu disse que a busca pelos suspeitos ainda estava em andamento.

A Coreia do Norte gerou cerca de US$ 2 bilhões (mais de R$ 10 bilhões) usando ataques cibernéticos "generalizados e cada vez mais sofisticados" para roubar bancos e bolsas de criptomoedas, relataram os monitores em 2019.

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Em seu último relatório, visto pela agência de notícias Reuters na segunda-feira, eles disseram que hackers ligados à Coreia do Norte continuaram a visar instituições financeiras e casas de moeda virtual em 2020. "De acordo com um Estado membro, o roubo total de ativos virtuais da RPDC, de 2019 a novembro de 2020, foi de aproximadamente US $ 316,4 milhões (mais de um bilhão de reais)", afirmava o relatório.

O último relatório dos monitores de sanções da ONU também observou que "uma tendência clara em 2020 era que os ciberatores da RPDC estavam conduzindo ataques contra as indústrias de defesa em todo o mundo".

A KuCoin e seu executivo-chefe, Johnny Lyu, não retornaram ios pedidos de esclarecimento da reportagem. A missão da ONU da Coreia do Norte em Nova York também não respondeu a um pedido de comentário sobre o relatório.

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A Coreia do Norte está sujeita a sanções da ONU desde 2006 por sua atividade nuclear, o que vem prejudicando sua economia. Elas foram reforçadas pelos membros do Conselho de Segurança ao longo dos anos./ AFP

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