BUENOS AIRES - Os “diários da corrupção” e a Lava Jato convergem na Argentina a partir de atores em comum e de uma matriz semelhante de corrupção sistemática. A IECSA aparece tanto nos “diários da corrupção” quanto nas delações da Odebrecht no Brasil, que estão a ponto de ser enviadas à Argentina. Odebrecht e IECSA eram sócias numa das maiores obras públicas do país.
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“Para Macri, é um problema porque envolve sua família, mas pode ser uma oportunidade de mostrar uma mudança real, sem a conivência de juízes amigos para a troca de favores”, diz o analista político Marcos Novarro. “Ao mesmo tempo, o fato de o primo do presidente estar envolvido desarma a hipótese de a causa ser uma armação do governo contra a oposição”, sublinha.
As consequências negativas de investigações profundas que questionem os contratos em obras públicas e paralisem os investimentos das empresas questionadas é outra lição brasileira que os argentinos querem evitar. Um freio generalizado no investimento até que a situação se normalize pode estender a recessão e prejudicar as Parcerias Público-Privadas, grande aposta do governo para reduzir o déficit fiscal sem comprometer a obra pública em ano eleitoral.
O governo avalia permitir que as empresas suspeitas de corrupção continuem com os investimentos até que haja sentença firme, depois de esgotarem todos os recursos. “A Lava Jato assusta o governo porque é um fator de crise de governabilidade e de instabilidade econômica no curto prazo. No governo pensam ‘queremos reforma institucional, mas queremos tanta confusão?’ A Lava Jato é muito atraente pelas reformas institucionais que pode causar, mas tem custos políticos e econômicos dramáticos”, diz Novarro.
"A maioria dos políticos na Argentina não quer uma Lava Jato, não necessariamente por interesse pessoal, mas porque este é um país frágil do ponto de vista institucional.”
“Há duas situações: contratos que algumas empresas assinaram no governo anterior com problemas e contratos que essas mesmas empresas assinaram de forma limpa também no governo anterior. Na atual gestão, os procedimentos de licitação e de execução da obra pública tornaram-se transparentes e com preços menores. Não podemos cancelar tudo. É preciso separar. Queremos que a Justiça atue, mas também queremos que a Argentina tenha obras públicas”, defende Fernando Sánchez, secretário do governo Macri.
“A Argentina está combatendo a corrupção nos tribunais com menos eficácia do que o Brasil, com menos condenados, mas com menos crise institucional. Essa é a grande diferença: a Argentina iniciou a sua depuração do sistema de obra pública não só com investigações judiciais, mas com fortalecimento das suas instituições para poder avançar melhor neste processo”, diz Sánchez.