Investigado, Olmert defende atuação de Israel durante guerra

Comissão investiga atuação do governo durante a guerra com o Hezbollah, no Líbano; depoimento do primeiro-ministro durou mais de seis horas

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Por Agencia Estado
Atualização:

Submetido a um depoimento que durou mais de seis horas, o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, defendeu nesta quinta-feira a atuação de seu governo durante o recente conflito com a guerrilha xiita libanesa Hezbollah. O premier fez as afirmações ao comparecer perante uma comissão que investiga os supostos erros do governo e das Forças de Defesa Israelense cometidos durante o conflito com o Hezbollah, no Líbano, em meados do anos passado. O objetivo do comparecimento de Olmert à chamada Comissão Winograd é esclarecer o comportamento do gabinete ao longo dos enfrentamentos e colher os protocolos das reuniões do governo, segundo comunicado de seu escritório em Israel. Abalado pelo resultado do conflito e por um escândalo financeiro, a aprovação do premier israelense nunca esteve em níveis tão baixos. Seu comparecimento frente à Comissão Winograd tem sido amplamente vista como sua última chance para evitar a total perda de apoio público, o que poderia lhe forçar a renunciar. Embora o gabinete de Olmert não tenha se pronunciado oficialmente sobre o depoimento, o jornal israelense Yediot Ahronot afirma em seu website que o premier disse à comissão que Israel ganhou a guerra, por ter conquistado importantes vitórias diplomáticas e militares. Entretanto, a reportagem, feita com base em declarações de fontes anônimas, destaca que Olmert admitiu ter enfrentado problemas durante a condução do conflito. À Associated Press, um funcionário do governo descreveu o depoimento como "preciso e muito detalhado". O governo de Olmert designou os membros da Comissão, que é liderada pelo ex-juiz Eliahu Winograd, após fortes protestos da oposição e dos reservistas que participaram dos 34 dias de conflito. Eles exigiam a renúncia do primeiro-ministro, pelo que consideraram graves erros na condução das operações. O escritório do primeiro-ministro indicou ainda, em um breve comunicado, que "o testemunho se limitou às questões relacionadas com a disputa", e que "o primeiro-ministro respondeu detalhadamente a todas as perguntas, além de apresentar os protocolos das reuniões do governo", e das consultas com membros da segurança. Um dos erros considerados mais graves pelos críticos de Olmert foi a falta de coerência nas decisões adotadas pelo governo e Estado-Maior durante a disputa, e a mudança das ordens aos chefes e aos combatentes no terreno, sobretudo os reservistas, que em muitos casos lutaram com armas obsoletas. A Comissão interrogou Olmert acerca das informações que o governo possuía, em uma aparente alusão ao arsenal do Hezbollah, com mais de 10 mil mísseis e foguetes no sul do Líbano, ao longo da fronteira. Foram questionados ainda os procedimentos adotados para a tomada de decisões durante o conflito. Olmert é a última das mais de 70 testemunhas que se apresentaram perante os membros da Comissão, cujas conclusões são esperadas para as primeiras semanas de março. A Comissão não tem poder para exigir a renúncia de Olmert, ou do ministro da Defesa Amir Peretz, como desejam a oposição e um grupo de dissidentes da reserva. Mas ambos podem se ver expostos - por razões éticas - caso sejam considerados culpados pelos erros. Todos os interrogatórios foram realizados de forma reservada, e os integrantes da Comissão evitaram fazer declarações à imprensa. Até agora, mais de setenta testemunhas prestaram declarações à chamada "Comissão Winograd", que investiga o grau de preparação das Forças Armadas israelenses no Líbano, o processo de decisão político que levou ao conflito e a gestão da disputa pelo Exército e o governo. Personalidades interrogadas Entre as personalidades interrogadas pelos investigadores estão ex-primeiros-ministros, políticos, militares de diferentes categorias que desempenharam um papel relevante durante o conflito - como o chefe do Estado-Maior, tenente general Dan Halutz, que deixou o cargo há duas semanas -, reservistas e chefes de organismos de segurança envolvidos. Antes de apresentar sua renúncia, Halutz apresentou e analisou, em um fórum com chefes militares, um estudo que encomendou a cinqüenta comissões de oficiais especialistas, a fim de avaliar os erros cometidos. Entre 12 de julho e 14 de agosto de 2006, Israel travou uma batalha com a guerrilha xiita Hezbollah, no sul do Líbano, que deixou mais de mil de mortos libaneses e 150 israelenses, além de milhares de feridos de ambos os lados, e enormes danos materiais em ambos os países. Israel lançou a ofensiva em grande escala, que surpreendeu ao líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, tal como ele mesmo admitiu em Beirute, depois de tropas da milícia xiita terem capturado, em solo de Israel, dois reservistas de uma patrulha de fronteira, que ainda seguem em cativeiro. O conflito teve fim com um cessar-fogo mediado pelo Conselho de Segurança da ONU, cuja resolução 1701 obrigou o Hezbollah a retirar-se da fronteira com Israel, vigiada agora por soldados do Exército libanês e da Força Interina das Nações Unidas (Finul). A guerra representou um duro golpe para o prestígio do Exército e do Governo israelense, que não obtiveram seus objetivos: resgatar os soldados, eliminar o Hezbollah como força armada e proteger adequadamente um milhão e meio de civis sob o ataque de 4 mil mísseis Katyusha em poder da milícia.

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