TEERÃ - O porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores do Irã, Ramin Mehmanparast, admitiu nesta terça-feira, 26, que seu país forneceu dinheiro ao governo de Hamid Karzai, presidente do Afeganistão.
O representante da chancelaria iraniana especificou que essa "assistência" econômica tem como objetivo "contribuir com a reconstrução do Afeganistão". "Como o Afeganistão é um país vizinho, o Irã ofereceu assistência para melhorar as infraestruturas do Estado e o seguirá fazendo", afirmou.
"Ao contrário de outros países que se dedicam a atacar e a gastar dinheiro no assassinato do povo afegão e em perturbar a segurança na região, o Irã está preocupado com a segurança do Afeganistão e sua estabilidade, e sempre ajudou para sua reconstrução", acrescentou.
As palavras de Mehmanparast confirmam em parte a informação divulgada no sábado pelo jornal americano The New York Times, na qual denunciava que funcionários iranianos entregaram sacos de euros em dinheiro a Omar Daudzai, ex-embaixador afegão em Teerã e atual chefe do gabinete de Karzai.
O próprio presidente afegão admitiu o recebimento do dinheiro, mas diminuiu a importância ao assunto ao afirmar que é dinheiro "transparente" utilizado para pagar salários e despesas da presidência e que os EUA estão cientes das transações.
A embaixada iraniana em Cabul negou, no entanto, que tenha dado sacos de dinheiro a Daudzai e classificou a informação do jornal americano de "grotesca e insultante".
Sobre a presença militar americana e da Otan no Afeganistão, Mehmanparast voltou nesta terça-feira a responsabilizar ambos pela instabilidade e a violência no país. "Acreditamos que sem a presença de forças estrangeiras na região, os países da área seriam capazes de estabelecer a segurança e haveria uma maior calma", disse.
Preocupação
Os EUA já demonstraram preocupação com a possível expansão da influência iraniana no Afeganistão. O governo norte-americano tenta acelerar o fim da guerra no Afeganistão e teme que o Irã possa estar financiando insurgentes ou tentando explorar o sentimento antiamericano no governo de Cabul.
"Eu acho que o povo americano e a comunidade global têm toda razão para ficar preocupada com o Irã tentando ter uma influência negativa no Afeganistão", afirmou um porta-voz da Casa Branca. Segundo o funcionário, o Irã tem a responsabilidade de "garantir que o Afeganistão não seja o país onde os terroristas têm um abrigo seguro, ou onde ataques podem ser planejados em seu solo".
Não há relações diplomáticas entre o Irã e os EUA há três décadas. Desde os atentados de 11 de setembro de 2001 e as guerras que se seguiram, no Afeganistão e no Iraque, o Irã se mostra preocupado com a ação militar norte-americana perto de suas fronteiras. Apesar das rivalidades, porém, tanto EUA quanto Irã são inimigos da milícia sunita do Taleban, que comandou Cabul entre 1996 e 2001, até esse grupo ser derrubado pela invasão dos EUA no Afeganistão.