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Irã diz que não julgará marinheiros britânicos

Declaração feita por alto funcionário de Teerã depois de o Reino Unido amenizar posição dá sinais de que a crise pode caminhar para uma solução negociada

Por Agencia Estado
Atualização:

O governo do Irã afirmou nesta segunda-feira, 2, que pretende resolver diplomaticamente o caso dos 15 marinheiros britânicos presos no Golfo Pérsico e garantiu que não haverá a necessidade de julgá-los. A declaração, feita por um alto funcionário de Teerã depois de o Reino Unido amenizar sua posição na disputa, dá sinais de que a crise iniciada há 11 dias pode evoluir para uma solução negociada. Londres respondeu dizendo que também quer conversas preliminares para resolver a crise. Na demonstração mais clara até agora de que está disposto a negociar, o governo britânico anunciou nesta segunda-feira que aceitaria estabelecer metas com o governo iraniano para evitar que incidentes semelhantes se repitam nas águas do Golfo Pérsico. A disputa começou no último dia 23, quando 15 marinheiros e fuzileiros navais britânicos foram capturados por embarcações iranianas no Golfo Pérsico. O Reino Unido afirma que seus militares estavam em águas iraquianas, cumprindo mandato da ONU de inspeção naval, enquanto o Irã alega que os marinheiros invadiram seu espaço marítimo. "A questão pode ser resolvida e não há necessidade de julgamento algum", disse Ali Larijani, secretário-geral do Conselho Supremo de Segurança Nacional, e principal negociador iraniano, à emissora britânica Channel 4. "É necessário estabelecer uma delegação para rever o caso, para esclarecer se eles estavam ou não nas nossas águas territoriais. Por meio do sensacionalismo vocês não podem resolver a questão", disse ele em Teerã, por meio de um intérprete. O Reino Unido buscou apoio da ONU e da União Européia para isolar o Irã, estratégia que é duramente criticada pelos iranianos, já submetidos a sanções internacionais por causa do seu programa nuclear. "Há uma diferença de opinião entre o governo do Reino Unido e o governo iraniano. A questão deve ser resolvida bilateralmente", disse Larijani. "Uma garantia deve ser dada de que tais violações não se repetirão." Londres também mostrou disposição para resolver a crise pela via diplomacia. "Nós ainda estamos analisando os comentários do doutor Larijani. Ainda restam algumas diferenças entre nós, mas podemos confirmar que compartilhamos a sua preferência por discussões bilaterais preliminares para encontrar uma solução diplomática para esse problema", disse uma autoridade do Ministério do Exterior britânico. "Nós daremos seqüência (às conversas) com as autoridades iranianas amanhã, dado o nosso desejo comum de fazer um progresso rápido." Mudança de estratégia A rádio estatal iraniana deu a entender que o tom mais ameno de Teerã se deve a uma mudança na estratégia de Londres. "Parece que o Reino Unido saiu um pouco da sua posição nos últimos um ou dois dias a respeito dos fatos inegáveis (a suposta invasão de águas territoriais iranianas) e se afastou de parte do seu clamor", disse um comentarista, falando após a veiculação de imagens dos militares presos. Após as duras críticas britânicas à exibição dos militares pela TV, até os ministros iranianos foram mais comedidos em suas respostas durante o fim de semana. "Os iranianos conhecem nossa posição. Sabem que aparições televisivas conduzidas em estúdio não vão afetar essa posição", disse um interlocutor do premiê Tony Blair. "Estamos esperando pela resposta deles. Há muita coisa acontecendo nos bastidores." EUA Os Estados Unidos reiteraram na segunda-feira seu apoio ao Reino Unido, mas a Casa Branca disse que não há interesse em ampliar a crise. "Rejeitamos qualquer sugestão de que estejamos endurecendo a linguagem em termos de nos preparar para ir à guerra com o Irã, certamente não é o caso", disse a porta-voz Dana Perino. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu na segunda-feira a Teerã que modere sua retórica. Um novo vídeo divulgado na segunda-feira mostra alguns dos militares britânicos fardados e falando com a câmera, mas suas vozes estão inaudíveis. Antes, o Irã havia divulgado trechos de entrevistas em que eles admitem - sob coação, segundo Londres - ter invadido as águas iranianas.

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