WASHINGTON- A viagem do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à Arábia Saudita neste fim de semana marcará o início de um choque maior desses dois aliados com Irã, independentemente do vencedor da eleição desta sexta na república islâmica.
Parte de um acordo multibilionário que será fechado em Riad é a renovação de um tratado para quatro novos navios voltados para o Combate no Litoral da Lockheed Martin, com um custo estimado em cerca de US$ 6 bilhões. A versão saudita dos navios virá mais fortemente armada do que a americana e substituirá os navios da antiga frota do reino ancorada no Golfo Pérsico – voltada para o Irã.
A proposta original de venda era estimada em US$ 11 bilhões quando foi anunciada ainda no governo Obama, em outubro de 2015, mas ela foi rejeitada pelos sauditas pelo custo e pelo redesenho que os engenheiros da Lockheed Martin queriam fazer dos navios. As discussões continuaram até que um ponto comum foi alcançado.
Desde sua campanha à presidência, Trump descreve o acordo nuclear entre o Irã e as seis potências internacionais (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha) um “desastre” e prometeu desfazê-lo. Mais discretamente, o reino saudita, que disputa influência regional com o Irã, também se opôs ao acordo, apesar de manifestar apoio a ele publicamente.
A escolha da Arábia Saudita e de Israel – dois rivais iranianos – como destino da primeira viagem internacional de Trump envia um sinal de rompimento de Washington com a política do ex-presidente Barack Obama para o Oriente Médio e sua reaproximação com o Irã.
O analista Bernard Haykel, da Princeton University, explica que o cálculo do governo anterior envolvia criar um balanço de poder entre os principais atores regionais – Arábia Saudita e Irã – com o objetivo de reduzir gradativamente a presença militar americana na região. “Mas a estratégia de Obama, considerando as guerras atuais no Iraque, Síria e Iêmen e a escala de tensões entre sauditas e iranianos, falhou”, escreveu Haykel, em artigo publicado pela Bloomberg.
Trump, em contraste, prefere alinhar-se fortemente com os aliados tradicionais dos Estados Unidos, como a Arábia Saudita e Israel. O presidente chegou a declarar o Irã como “ponto de instabilidade” na região.
Para o republicano, de acordo com Haykel, o Irã tem usado o acordo sobre seu programa nuclear para aumentar sua influência na região, especialmente com o apoio e uso de atores não estatais como o grupo Hezbollah, no Líbano e na Síria, os rebeldes houthis no Iêmen e as Unidades de Mobilização Popular no Iraque.
Todos esses grupos creem na corrente xiita do Islã, assim como o Irã, de divergências teológicas profundas com os sunitas, predominante entre os sauditas. “Ao fazer isso, o Irã tem travado uma guerra discreta com os árabes sunitas ao fornecer armas, doutrinação ideológica e treinamento para milícias xiitas por toda a região”, escreveu.
A administração Trump qualificou o Irã como “foco de atenção” por testar mísseis balísticos, mas não deixou claro o que isso significaria na prática.
“Um ataque americano direto contra o Irã é improvável sem uma confrontação aberta iraniana, como um ataque aos navios da Marinha americana no Golfo Pérsico”, pondera o especialista.
Este cenário dependerá do governo em Teerã, após as eleições no país com ampla participação popular. A votação definiria se Hassan Rohani continuaria no poder por mais quatro anos. / THE WASHINGTON POST