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Irã exige saída de chefe de inspetores da AIEA do país

Teerã também barrou o acesso de todos os inspetores de Estados que apoiaram as sanções contra o país aplicadas no final do ano passado, disseram diplomatas

Por Agencia Estado
Atualização:

O Irã exigiu a destituição do funcionário da Organização das Nações Unidas (ONU) que comanda as inspeções nucleares no país, acusando-o de quebra de confiança. O país também barrou o acesso de todos os inspetores de Estados responsáveis pelas sanções a Teerã, disseram diplomatas na sexta-feira. Na segunda-feira, o governo iraniano já havia anunciado restrições a 38 inspetores de quatro países ocidentais envolvidos na imposição de sanções da ONU ao país, sob suspeita de desenvolver armas atômicas. Teerã diz que o programa nuclear é voltado apenas para a geração de energia com fins pacíficos. Um influente diplomata próximo à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU) disse na sexta-feira que Irã escreveu à entidade pedindo a destituição do belga Chris Charlier, diretor da representação da AIEA para o Irã. No ano passado, Teerã já havia impedido que Charlier viajasse ao país. A AIEA não quis comentar o caso, e o diplomata salientou que os termos da carta iraniana "não eram tão fortes". Em Teerã, um diplomata iraniano não-identificado disse à agência oficial Irna que o país pediu à AIEA que "retire um inspetor belga da lista" dos que podem trabalhar no Irã. "Tanto o Irã quanto [a AIEA] estão informados de que esse inspetor passou informações nucleares iranianas confidenciais, que deveriam ser mantidas entre o Irã e a AIEA, para países inapropriados e seus meios de comunicação", disse o diplomata. "A cooperação do Irã com a AIEA vai continuar no marco do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, o que significa que as inspeções e supervisões continuam", disse o diplomata à Irna. Mas essa fonte acrescentou que o Irã vai continuar barrando inspetores que o governo considere que "se desviaram de seus deveres legais". Além disso, afirmou, não haverá espaço para países por trás de medidas contrárias às atividades nucleares iranianas. Aparentemente, o diplomata se referia a Grã-Bretanha, França e Alemanha, que redigiram as sanções aprovadas pela ONU, sob pressão norte-americana. Não se sabe ao certo quantos dos 200 inspetores dedicados ao Irã são dos três países europeus, ou se os 38 rejeitados incluem todos eles. Sabe-se que no grupo há cidadãos do Canadá, cujo governo apoiou incondicionalmente as sanções. A AIEA disse na segunda-feira que o veto aos 38 inspetores não prejudica o monitoramento, pois há muitos outros inspetores para a tarefa. Na quarta-feira, porém, a agência escreveu ao Irã pedindo que reconsiderasse a decisão. Os países comprometidos com o regime de não-proliferação nuclear têm o direito de barrar quaisquer inspetores. Alguns governos, inclusive ocidentais, costumam fazer isso, mas a recusa reiterada pode provocar reações da direção da AIEA. No ano passado, a agência confirmou Charlier no cargo, argumentando que ele poderia comandar as inspeções mesmo sem ir ao Irã. Charlier irritou o Irã em 2006 ao declarar à imprensa que Teerã continuava escondendo da AIEA uma questionável pesquisa nuclear. A despeito das sanções da ONU, o Irã pretende iniciar em breve o enriquecimento de urânio em escala industrial. Esse processo pode gerar combustível para usinas nucleares civis, mas também material para bombas atômicas. Diplomatas dizem que a AIEA tenta convencer o Irã a suspender o veto aos 38 inspetores, temendo que essa medida crie um precedente nas restrições às inspeções e incentivem os EUA a acalentar uma ação militar contra instalações nucleares iranianas. O diretor da AIEA, Mohamed El Baradei, disse na quinta-feira, no Fórum Econômico Mundial de Davos, que tal ataque ao Irã seria "absolutamente contraproducente e catastrófico", além de incentivar a República Islâmica a desenvolver armas nucleares.

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