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Irã faz do programa nuclear centro da política externa

Por Julian Borger
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O chanceler Manouchehr Mottaki foi destituído do cargo do modo mais humilhante possível. Sua demissão foi anunciada enquanto ele estava em viagem oficial à África, como um clássico golpe. Pode ter sido uma vingança do presidente Mahmoud Ahmadinejad pela tenacidade de Mottaki. Ele conseguiu se manter como ministro de Relações Exteriores, com o apoio do líder supremo do Irã, por mais de dois anos após começarem a circular os rumores de que ele estava acabado. Mas não está claro se sua saída significa que perdeu o apoio do aiatolá Ali Khamenei, ou se a demissão representa um desafio de Ahmadinejad ao líder supremo. No entanto, a escolha do chefe nuclear do Irã, Ali Akbar Salehi, como novo chanceler, mesmo que interinamente, diz algo sobre o Irã e suas prioridades. A preservação do programa nuclear tornou-se o ponto central da política externa do Irã. Salehi é uma das poucas pessoas na elite política do Irã que viveu em outro país. Ele estudou na Universidade Americana em Beirute e no Massachusetts Institute of Technology (MIT). Diplomatas ocidentais normalmente preferem lidar com Salehi do que com o principal negociador nuclear, Said Jalili, por que ele fala melhor inglês e é menos inclinado a extravagâncias.Além disso, Salehi assinou o protocolo adicional com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em 2003, que permitiu inspeções mais rigorosas nas instalações atômicas iranianas. No entanto, ele teve de defender sua decisão na TV ao voltar para o Irã. A aplicação do protocolo foi suspensa em 2006.Nos telegramas divulgados pelo site WikiLeaks da missão dos EUA em Viena o consenso entre os diplomatas ocidentais em 2009, quando Salehi assumiu como representante do Irã na AIEA, era o de que ele era uma pessoa amável, mas sem poder. Todos o descreveram como um interlocutor inteligente e preferiam lidar com ele em vez de com outros funcionários iranianos. Diplomatas saudaram a nomeação de Salehi como chanceler, pois isso significa que os contatos com o Ministério de Relações Exteriores terão agora mais substância. Durante o prolongado confronto entre Mottaki e Ahmadinejad, o ministério por muitas vezes tornou-se uma concha vazia, que se esquivou de tomar importantes decisões sobre questões nucleares.É JORNALISTA DE "THE GUARDIAN"

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