
30 de novembro de 2020 | 09h03
TEERÃ - O Irã enterrou os restos mortais do importante cientista nuclear Mohsen Fakhrizadeh nesta segunda-feira, 30, em um ataque que tem sido atribuído a Israel e prometeu retaliação em um funeral digno dos maiores "mártires" da República Islâmica.
O funeral de Fakhrizadeh, assassinado na sexta-feira perto de Teerã em um ataque contra seu carro, começaram no Ministério da Defesa em Teerã. Um público limitado, composto principalmente por militares, assistiu à cerimônia em cadeiras ao ar livre para respeitar as medidas contra o coronavírus.
"Se nossos inimigos não tivessem cometido esse crime vil e derramado o sangue de nosso amado mártir, isso teria permanecido desconhecido", disse o ministro da Defesa, general Amir Hatami, que não conseguiu conter as lágrimas. “Mas hoje, aquele que até agora não era nada mais que um ídolo para seus alunos e colegas se revela para todo o mundo”, e essa é uma “primeira derrota” para “os inimigos”, acrescentou.
Os restos mortais de Fakhrizadeh foram homenageados na noite de sábado e domingo em dois dos principais locais sagrados xiitas do Irã (em Machhad e em Qom), antes de serem levados para o mausoléu do Imam Khomeini em Teerã, como foi feito em janeiro para o general iraniano Qasem Soleimani, morto em um ataque dos EUA no Iraque em janeiro de 2020. O retrato do general, também considerado "mártir", ficava próximo ao caixão ao lado do do cientista.
A Press TV, rede iraniana de língua inglesa, informou na segunda-feira que a arma usada na morte do cientista foi feita em Israel. “As armas coletadas no local do ato terrorista (onde Fakhrizadeh foi assassinado) trazem o logotipo e as especificações da indústria militar israelense”, disse uma fonte não identificada à emissora.
O almirante Ali Shamkhani, secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional, responsabilizou Israel e os 'Mujahedins do Povo', grupo considerado terrorista pelo Irã. "Foi uma operação complexa com recursos materiais eletrônicos, mas o elemento criminal é o regime sionista e Mossad".
Acusando Israel de querer causar o "caos", o presidente iraniano Hasan Rohani prometeu no sábado uma resposta ao assassinato de Fakhrizadeh "no devido tempo".
Após a morte de Fakhrizadeh, Hatami revelou que o cientista era um de seus vice-ministros e chefe do Departamento de Pesquisa e Inovação de Defesa, observando que havia feito "um trabalho considerável" no campo da "defesa anti-atômica".
O governo afirmou que "dobrou o orçamento" do órgão para continuar no caminho traçado pelo "médico mártir", anunciou o general Hatami no funeral, negando que Fakhrizadeh tenha participado de um programa nuclear militar como acusou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
A oração da morte foi liderada por Ziaoddine Aqajanpour, representante do guia supremo Ali Khamenei, no Ministério da Defesa. "Seremos pacientes diante desses desastres, vamos resistir; mas nossa nação exige punição decisiva em uma só voz" contra os responsáveis pela morte de Fakhrizadeh, disse Aqajanpour, falando em nome do iraniano número um. Inimigo jurado do Irã, Israel não reagiu oficialmente às acusações das autoridades iranianas.
Desde o anúncio da vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, o presidente Rohani multiplicou os sinais de abertura que mostram sua disposição de salvar o que puder do acordo nuclear de 2015. Este pacto internacional oferece a Teerã um relaxamento das sanções internacionais em troca de garantias, verificadas pelo Organismo Internacional de Energia Atômica, atestando o caráter pacífico de seu programa nuclear.
Mas o país ameaçou retaliar desde que o presidente Donald Trump retirou unilateralmente os Estados Unidos do acordo em 2018 e retomou as sanções econômicas. Biden disse que deseja que os Estados Unidos voltem a este acordo. / AFP
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