Irã planeja aumentar enriquecimento de urânio após ataque à instalação nuclear de Natanz

Decisão coloca em risco retomada do acordo nuclear entre o país e as grandes potências

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Por Kareem Fahim
Atualização:

ISTAMBUL - O Irã começará a enriquecer urânio com 60% de pureza, disse um alto funcionário do governo na terça-feira, 13, ultrapassando em muito seu nível atual de produção, em uma atitude desafiadora que ameaça colocar em risco os primeiros passos para a retomada do acordo nuclear iraniano com as grandes potências. 

A decisão ocorre após um ataque a uma de suas principais instalações nucleares, informaram agências de notícias iranianas. A emissora estatal iraniana Press TV citou o principal negociador nuclear do Irã, Abbas Araghchi, dizendo que o país informou a Agência Internacional de Energia Atômica sobre os planos para iniciar o enriquecimento de urânio a 60%.

O presidente iraniano Hassan Rouhani visita exibição de equipamenos nucleares em Teerã Foto: Iran Presidency Office via AP

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O anúncio coloca o Irã mais perto de níveis de enriquecimento para armas, que costuma ser de mais de 90%, e excede em muito seu atual nível máximo de 20%.

A mudança ameaça ofuscar esforços em Viena para encorajar o Irã a restabelecer restrições ao seu programa nuclear, em troca da retirada das sanções dos Estados Unidos. As partes envolvidas nas negociações, incluindo os EUA, deveriam se reunir novamente em Viena no final desta semana.

O Irã começou a violar o acordo depois que o então presidente Donald Trump retirou os EUA do acordo em 2018, impondo novamente sanções a Teerã e acrescentando  mais de 1.500 medidas adicionais no que seu governo chamou de campanha de "pressão máxima" para paralisar a economia iraniana.

O Irã, em resposta, aumentou o urânio enriquecido de 3,67% de pureza estipulado pelo acordo para 20%.

Depois de uma reunião inicial na semana passada, Teerã e Washington consideraram as negociações -- realizadas indiretamente, com membros europeus entre as delegações dos dois países  -- construtivas.

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Mas, no último domingo, 11, um ataque atingiu a principal instalação de enriquecimento de urânio do Irã em Natanz. O incidente gerou uma escalada entre Teerã e Israel.

Houve diferentes versões de como o ataque foi realizado, com relatos de um ataque cibernético e de uma explosão que destruiu a transmissão de energia e causou um incêndio. Autoridades iranianas culparam Israel pelo ataque, que, segundo eles, causou um apagão e danificou as centrífugas. Israel não comentou publicamente.

Enquanto as autoridades envolvidas nas negociações de Viena se preparavam para a reação do Irã, o governo Biden disse rapidamente que os Estados Unidos não tinham nada a ver com o incidente. O anúncio do Irã de intensificar o enriquecimento na terça-feira pareceu mostrar que ele estava ansioso para usar o ataque de Natanz como alavanca adicional nas negociações.

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Em seus comentários na terça-feira, Araghchi disse que outras mil centrífugas com 50% a mais de capacidade seriam implantadas em Natanz, além da substituição das centrífugas danificadas.

Na segunda-feira, o ministro de Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, jurou vingança contra Israel. O governo israelense se recusou a comentar formalmente seu envolvimento, mas fontes do governo dos EUA e de Israel confirmaram separadamente ao The New York Times que Israel está envolvido no incidente. A imprensa israelense, citando fontes de inteligência, atribuiu o ataque ao Mossad, a agência de espionagem do país.

Instalação nuclear de Natanz foi atacada no último domingo, 11 Foto: Atomic Energy Organization of Iran via AP

Um porta-voz da Organização de Energia Atômica do Irã, Behrouz Kamalvandi, afirmou na segunda-feira que a explosão deixou uma cratera tão grande que ele caiu dentro dela — e machucou cabeça, costas, pernas e braços.

O Irã sustenta, há muito tempo, que seu programa nuclear tem fins pacíficos e é destinado ao desenvolvimento energético do país. Mas Israel o considera uma ameaça à sua existência, já que líderes iranianos pregam com frequência a destruição de Israel.

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“Ambos concordamos que o Irã nunca deverá possuir armas nucleares”, afirmou o premiê israelense Binyamin Netanyahu na segunda-feira. “Minha política enquanto primeiro-ministro de Israel é clara. Nunca permitirei que o Irã atinja capacidade nuclear para cumprir sua meta genocida de eliminar Israel, e Israel continuará a se defender da agressão iraniana e do terrorismo.”/AFP

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