Irã propõe reduzir ritmo de programa nuclear e encerrar crise em até 1 ano

Na 1ª rodada de diálogo, Teerã apresenta plano que diminui enriquecimento de urânio e prevê envio de combustível processado a 20% para o território iraniano em troca de suspensão das sanções

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Por Jamil Chade e correspondente em Genebra
Atualização:

GENEBRA - O Irã colocou nesta terça-feira sobre a mesa de negociação sua proposta para um acordo nuclear definitivo com as grandes potências, a ser implementado em até um ano. Teerã se comprometeria a reduzir o ritmo de enriquecimento de urânio e o combustível processado a 20% seria fornecido por outros países. Em contrapartida, as sanções seriam suspensas.

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Nesta terça-feira teve início, em Genebra, a primeira rodada de negociações sobre o programa nuclear de Teerã desde a eleição do presidente Hassan Rohani, em julho, que trocou o tom belicoso de seu antecessor, Mahmoud Ahmadinejad, por promessas de romper o isolamento iraniano. Sentam-se à mesa para dialogar autoridades do Irã e do chamado "P5+1", que inclui os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, Grã-Bretanha, França, Rússia e China) e a Alemanha.

O governo iraniano rejeita qualquer proposta que envolva o congelamento completo e unilateral de seu programa atômico, como exigem setores nos EUA e Europa, além de Israel, e quer o reconhecimento formal de seu direito de enriquecer urânio para fins pacíficos.

Segundo o cronograma iraniano, um plano de três fases seria concretizado em até um ano. Primeiro, os dois lados definiriam os termos para verificação in loco das instalações do programa iraniano e para a suspensão das sanções. Depois, por seis meses, ambos os lados implementariam os compromissos assumidos.

Por último, as grandes potências reconheceriam o direito iraniano de ter um programa nuclear para fins pacíficos e o líder supremo do país, Ali Khamenei, decretaria uma fatwa banindo em seu país armas atômicas.

A resposta inicial de americanos e europeus foi cuidadosa. Não rejeitaram a proposta iraniana, mas enfatizaram que ela representava "um início" da negociação diplomática. A delegação americana não escondia a frustração nesta terça-feira diante do fato de os iranianos terem se recusado a apresentar o projeto à Casa Branca antes do encontro em Genebra. Washington queria o projeto para poder ir à Suíça com uma resposta.

Por cautela, o secretário de Estado americano, John Kerry, preferiu cancelar a viagem que faria a Genebra. Ele estava na Europa e optou por retornar aos EUA.

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"Ninguém deve esperar o fim do impasse da noite para o dia", declarou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, indicando que as reuniões, que terminam nesta quarta-feira, não devem ser as últimas. "Ainda que apreciemos a mudança de tom do governo iraniano sobre o assunto, queremos passos concretos."

Ao contrário do que se esperava, não houve uma reunião bilateral entre Irã e EUA, justamente em razão da ausência deliberada de Kerry. O porta-voz da União Europeia, Michael Mann, disse que os países do bloco mantêm um "otimismo cauteloso" e aguardam mais garantias por parte de Teerã. "Foi uma apresentação muito útil. Mas, claro, precisamos ainda de mais detalhes e o caminho para um acordo será longo", disse.

"Podemos dizer que, pela primeira vez, tivemos um debate detalhado sobre um acordo. Foram coisas muito concretas."

O porta-voz da UE explicou que todos na sala acertaram que os detalhes do acordo em debate não poderiam ser divulgados para a imprensa. O sigilo tem como objetivo impedir que vozes radicais - de Teerã a Washington - consigam torpedear as negociações em Genebra antes mesmo de elas darem qualquer resultado.

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Minutos antes de entrar na sala de reuniões, o chanceler iraniano, Mohamed Javad Zarif, recebeu um telefonema ordenando que parte do projeto fosse suprimido. O governo de Rohani vem sendo atacado internamente por grupos que rejeitam a aproximação com o Ocidente.

Impasse. Negociando em inglês, com um laptop em sua mesa e usando uma apresentação de PowerPoint, a delegação iraniana apresentou o que acredita ser a base de um acordo. Só o fato de o encontro ter sido conduzido em inglês foi recebido pelas potências como um sinal de que o Irã quer um acordo. O chanceler iraniano, que sofria de dores nas costas e foi obrigado a se retirar da reunião durante grande parte do dia, apelou para "o fim de uma crise desnecessária e o começo de novos horizontes".

Para o vice-chanceler de Teerã, Abbas Araqchi, a proposta que está sobre a mesa tem "o potencial de romper o impasse". Ele reconheceu, no entanto, que é "cedo demais para julgar" se o projeto é suficiente para acabar com as diferenças.

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