Irã quer que EUA passem ''à ação''

Para porta-voz do governo, mensagem de Washington é positiva, mas insuficiente para construir novos laços

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Por REUTERS e AFP E AP
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O Irã recebeu ontem com cautela a mensagem do presidente dos EUA, Barack Obama, que propôs um "novo começo" nas relações entre os dois países. Ali Akbar Javafekr, porta-voz da presidência iraniana, afirmou que foi positiva a mensagem de Obama, mas pediu que Washington passe "das palavras à ação". "Recebemos bem o gesto do presidente americano de deixar de lado as diferenças do passado, mas o meio para alcançar isso não é pedir ao Irã que esqueça a atitude agressiva dos EUA", disse Javanfekr. "O governo americano tem de admitir seus erros e repará-los. Esse é o melhor modo de eliminar as diferenças." Javanfekr criticou ainda a presença militar dos EUA no Iraque e no Afeganistão, qualificando-a de "única fonte de instabilidade na região". Ele afirmou que o apoio americano a Israel não é "um gesto amigável" e condenou o voto americano favorável às sanções da ONU contra o Irã, que classificou como "um equívoco que deveria ser revisto". Nem o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, nem o presidente, Mahmud Ahmadinejad, manifestaram-se publicamente sobre a mensagem do presidente americano. Em discurso gravado para o ano-novo iraniano, Khamenei limitou-se a dizer que as potências mundiais já foram convencidas de que não impedirão o projeto nuclear do Irã. Em outro discurso gravado para a mesma ocasião, Ahmadinejad afirmou que o mundo chegou a um "beco sem saída" na pressão contra o país. Na Europa, a mensagem de Obama recebeu uma resposta entusiasmada. França, Alemanha e Grã-Bretanha elogiaram a mensagem do presidente americano. "Ela reflete exatamente o que os europeus sempre quiseram", disse a chanceler alemã, Angela Merkel, durante uma reunião de cúpula da União Europeia em Bruxelas. "Continuo achando que, com o preço do petróleo baixo, as sanções são importantes. No entanto, precisamos, ao mesmo tempo, abrir um caminho para o diálogo", afirmou o presidente francês, Nicolas Sarkozy. O chefe da política externa da UE, Javier Solana, disse esperar que o discurso do presidente americano conduza a "um novo capítulo nas relações com o Irã. O chanceler italiano, Franco Frattini, também elogiou a mensagem de Obama, ressaltando que se trata de uma "virada histórica" nas relações entre Washington e Teerã. O vice-ministro de Assuntos Exteriores da Rússia, Serguei Riabkov, declarou que o Kremlin estava "satisfeito" com a mensagem de Obama. "Para nós, é muito importante que o novo governo dos EUA planeje uma aproximação com o Irã no âmbito político e diplomático", disse. "Consideramos que esse seja um ótimo caminho." Mohamed Hassan Khani, professor de relações internacionais da Universidade Imam Sadiq, de Teerã, descreveu a mensagem como "um gesto positivo", mas ressaltou que ela chega uma semana depois de os EUA terem ampliado as sanções ao país. "Isso é algo conflituoso, que faz com que a mensagem seja recebida de maneira confusa no Irã", disse.

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