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Irã responde a acusações de Bush

Por Agencia Estado
Atualização:

O Irã, inicialmente visto como parceiro na guerra contra o terror mas apontado pelo presidente George W. Bush, em seu discurso sobre o Estado da União, como um exportador de terrorismo, retrucou duramente nesta quarta-feira. O Iraque classificou os comentários de Bush de "estúpidos" e muitas nações demostraram preocupação com o tom agressivo do presidente dos Estados Unidos. O fato de Bush nomear o Irã em seu discurso na noite de terça-feira reflete um recente endurecimento da administração com relação a Teerã. E o uso da frase "eixo do mal" ao se referir a Irã, Iraque e Coréia do Norte levantou muitas suspeitas. "Ele falou com arrogância, agressividade, buscando humilhar e interferir - e, pior de tudo, trata-se de um insulto à nação iraniana", disse o presidente do Irã, Mohammad Khatami, numa reunião ministerial na noite de hoje, segundo a televisão estatal do país. "Somos partidários da paz, uma paz baseada na justiça para a humanidade", afirmou Khatami. O vice-presidente iraquiano, Taha Yassin Ramadan, disse a repórteres na noite de hoje que "o discurso do presidente Bush é estúpido e impróprio". Ramadan, respondendo à referência de Bush sobre o "eixo do mal", retrucou que o governo dos Estados Unidos "é a fonte do mal" no mundo. A escolha da expressão por Bush foi criticada igualmente em todas as partes, com a agência de notícias russa Interfax divulgando que Dmitry Rogozin, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento da Rússia, considerou-a uma reminiscência da retórica da Segunda Guerra Mundial contra Alemanha, Itália e Japão. Rogozin afirmou que ultraconservadores liderados pelo vice-presidente Dick Cheney parecem estar ganhando o controle no círculo íntimo de Bush. Políticos nas Filipinas, um aliado de longa data dos Estados Unidos, e na Malásia, expressaram preocupação com a percepção de que Bush está adiantando que os EUA irão interferir demais em suas nações, onde os governos estão sendo pressionados a reprimir militantes vinculados à organização Al-Qaeda, liderada pelo milionário saudita Osama bin Laden. Nesta quinta-feira, tropas norte-americanas começarão a treinar filipinos para combater o grupo militante Abu Sayyaf, supostamente ligado à Al-Qaeda. Diversas autoridades das Filipinas ficaram incomodadas com a advertência de Bush de que "um submundo terrorista" existe em uma dezena de países - inclusive as Filipinas - e com sua ameaça de que "se eles (os governos dos países) não agirem, a América agirá". "Para mim é claro que o presidente de um país amigo não ameaça outro país amigo", afirmou o secretário de Justiça Hernando Perez. O porta-voz presidencial Rigoberto Tiglao tentou colocar panos quentes na controvérsia: "Somos totalmente diferentes do Iraque e da Coréia do Norte, e a declaração do presidente Bush foi obviamente em resposta a nações que não têm feito nada contra o terrorismo." A Coréia do Norte não comentou o discurso de Bush. Mas Yu Suk-ryul, professor no Instituto de Relações Exteriores e Segurança Nacional, financiado pelo governo da Coréia do Sul, disse que suas palavras sugerem que ele está "enviando uma mensagem à Coréia do Norte antes de sua viagem à Ásia no mês que vem, dando conta de que Washington não está aberto a um compromisso em relação às armas de destruição em massa do Norte". O "eixo do mal" de Bush inclui o Irã, um apoiador de longa data do grupo guerrilheiro Hezbollah, que lutou contra a ocupação israelense do sul do Líbano por anos e ainda ataca alvos de Israel em áreas disputadas. O Hezbollah é amplamente visto no Irã e no mundo árabe como um movimento de libertação, e não como um grupo "terrorista", como Bush o tem rotulado. Mas o Irã também condenou os ataques terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos e sempre se opôs ao Taleban, milícia que governava o Afeganistão. No começo da guerra dos Estados Unidos contra o terrorismo, autoridades norte-americanas falavam sobre uma melhor cooperação com o Irã. Mas no último mês, Bush tem acusado o Irã de tentar minar o novo governo afegão, e a Casa Branca ficou irritada com a suposta tentativa iraniana de contrabandear armas para os palestinos. Bush disse em seu discurso que o Irã está buscando armas de destruição em massa e "exporta o terrorismo, enquanto uns poucos, não eleitos, reprimem as esperanças do povo iraniano por liberdade". Khatami respondeu que os norte-americanos deveriam pedir a seus políticos para parar de procurar a guerra e ajudar a cultivar uma paz baseada na justiça. "Depois de 11 de setembro, sentimos que havia uma grande oportunidade para mobilizar a vontade internacional para combater o terrorismo", afirmou Khatami. "Mas, infelizmente, esta oportunidade foi mal aproveitada e este abuso é uma traição à humanidade." Na Somália, outra nação islâmica citada como um possível palco da campanha antiterrorismo dos EUA, o inexperiente governo elogiou o discurso de Bush e afirmou estar esperando a ajuda americana. "Vamos pedir ao governo dos Estados Unidos para colaborar conosco... na luta para erradicar todo possível terrorismo na Somália", disse o presidente Abdiqasim Salad Hassan. Leia o especial

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